Nicarágua, esqueça as guerrilhas, conheça o país e se encante com seu povo !

Ao cruzarmos a fronteira deixando à Costa Rica para trás,  entramos na Nicarágua e nossos primeiros pensamentos são de um país pobre, recheado de conflitos e com poucos atrativos, referências que normalmente espantam turistas desavisados.  Na verdade logo na primeira parada, na cidade de San Juan del Sur, o que vimos apagou imediatamente estas impressões remotas. A Nicarágua é atualmente o país mais tranquilo e mais barato da América Central. Em San Juan não há muito que se ver, é mais o sossego da praia, os restaurantes a beira mar e um pouco de vida noturna nos bares do vilarejo. 

       

          

                

 A bela praia Madera, um pouco mais afastada do centro e com uma estrada de acesso precária, oferece boas ondas e muitos americanos fogem do frio em seu país para ter aulas de surfe  nas praias da Nicarágua, onde é quente o ano inteiro. Na praia os “gringos”, como são chamados pelos locais, carregam desajeitadamente seus longboards (pranchões) a caminho das ondas.  Poucos dias são suficientes para conhecer San Juan assim voltamos para estrada em direção a um dos melhores destinos ecológicos do país, a Ilha de Ometepe.  

       

                   

           

Seguimos para a cidade de San Jorge, de onde partem as balsas para a ilha. Há duas empresas que oferecem o serviço e o fluxo de turistas com carros é pequeno mas as balsas levam apenas 6 veículos por vez, portanto o ideal é reservar antes ou chegar cedo ao porto.  A travessia é rápida, cerca de 1 hora e em todo tempo navegamos no imenso lago Cocibolca mais conhecido como lago Nicarágua, com  vista para os dois vulcões da ilha bem a nossa frente. O lago Cocibolca é o maior lago da América Central e o segundo da América Latina, apenas um pouco menor que o lago Titicaca , entre o Peru e a Bolívia. Já a ilha de Ometepe é apenas uma das mais de 400 ilhas existentes no lago e o nome tem sua origem na língua indígena “nahuatl” e significa lugar de duas montanhas, reverência aos dois vulcões da ilha.  

    

         

Se você acha que vai desembarcar num balneário, com resorts luxuosos, hotéis internacionais é melhor nem ir para lá, pois quando se chega a Ometepe você fará uma imersão na mais profunda Nicarágua, verdadeiramente simples e desprovida de infra-estruturas. Aqui não há maquiagem, grande parte das habitações locais são de madeira muitas sem pintura e sem energia elétrica. Ficaram para trás os grandes edifícios, restaurantes e cafés para dar lugar a uma outra realidade, florestas, lagoas, nascentes e cachoeiras. A ilha parece ter sido desenhada a mão com sua forma de 8, sendo que em cada círculo existe um vulcão, o Maderas e o Concepción, este segundo ativo ainda preocupa os moradores. É claro que existem boas acomodações na ilha, pousadas confortáveis,  aconchegantes e com boa comida.  Em Ometepe o viajante vai perceber que o tempo anda em outra velocidade, o prazer pode estar numa conversa com um morador, observar o sol se deitando atrás das montanhas na Punta Jesus Maria ou mesmo contemplar a silhueta dos vulcões numa noite enluarada. 

      

     

Durante a nossa passagem, em quase todas manhãs, uma espécie de anel permanecia abraçado ao vulcão Concepcion e aos poucos ia se dissipando com a chegada do sol.  Para os mais aventureiros há muitas atividades, desde navegar num caiaque pelo lago, trekkings aos cumes dos vulcões, onde a paisagem se altera a todo instante. Se você gosta de uma boa caminhada é imperdível a trilha que leva a cachoeira de San Ramon, uma queda de quase 60 metros encravada entre florestas e densa vegetação bem no meio do paredão do vulcão Maderas. Os passeios a cachoeira normalmente partem logo cedo, mas o ideal mesmo é chegar lá depois do meio-dia, hora em que o sol bate na cachoeira e fica perfeito para um banho.   

                                 

Para quem quer relaxar, vale dar um mergulho descontraído ou apenas se deitar numa rede às margens do lago e não fazer nada. Passar alguns dias na ilha é muito agradável, o lugar transpira tranquilidade, perfeito para acumular energias e descansar. Como estávamos de carro, pudemos tatear praticamente os quatro cantos da ilha, conversar com moradores e ver de perto o modo simples e alegre como vivem. Pelas estradas estreitas moradores vão e vem conduzindo gado, transportando bananas nos alforjes do cavalo, crianças seguem uniformizadas para a escola. Esqueça seu ipod, telefone celular, aqui, conversar com um morador vale mais que horas na frente do seu notebook. 

     

       

     

     

Numa passagem pela estrada o som de uma pequena máquina chama nossa atenção. Paramos o carro e fomos conferir de perto o que acontecia. A máquina era uma descascadora de arroz e o senhor Juan vai de casa em casa oferecendo o serviço aos moradores ao preço de 50 centavos de dólar o quilo. Muitos moradores plantam arroz em Ometepe e parte da rodovia é utilizada por eles para secagem do produto. A carência de tecnologia e de equipamentos é visível, parece mesmo que estamos num local que vive em outros tempos, mas nem por isso deixam de mostrar alegria e hospitalidade.   A passagem por Ometepe foi marcante para nossa travessia que acabamos batizando, depois de 7 meses, o nosso veículo, portanto a partir de agora o chamaremos de Ometepe”. Seguimos nosso reconhecimento pela ilha, agora seguindo para a outra ponta, na vila de Altagracia. Na praça central uma senhora simpática com sua filha vende frutas e legumes e pesam numa balança presa num galho de árvore. As hospedagens na ilha são para todos os bolsos e normalmente os locais mais procurados pelos visitantes são Santo domingo e Mérida. Os preços vão de 6 dólares em pousadas simples e bem decoradas aos melhores hotéis que podem custar  de 35 a 45 dólares. O Hotel Finca Venecia é uma boa opção, foi onde fomos bem recebido e pudemos parar nosso motorhome . Segundo o proprietário, o simpático Ignácio Briceño, a ilha está aos poucos melhorando a estrutura para receber turistas e em breve será inaugurado o aeroporto da ilha, o que deverá incrementar a vinda de visitantes. Ignácio conta ainda que onde está instalada a pousada havia uma grande plantação de tabaco.

     

      

     

Seu pai chegou na ilha em décadas passadas e comprou as terras onde hoje estão os hotéis dos 3 irmãos, cada um com seu estilo.  Outro lugar que vale a visita é o Museu El Ceibo, uma coleção privada de mais de 1500 peças pré-colombianas encontradas por toda ilha.  Através dos anos Ometepe foi refugio e a terra prometida de muitas tribos de origem Náhuatl y Olmeca. Outras etnias também passaram por aqui vindos do norte como os Chorotegas e os Nicaraguas, todas estas passagens converteram a ilha em um lugar sagrado e repleto de riquezas arqueológicas. Ometepe é assim, simples mas acolhedora, pobre mais solidária, percorrendo as estradas da ilha é fácil se encantar, a praia de Santo Domingo,  o povoado de Mérida, tomar um banho refrescante nas águas transparentes da nascente Ojos de Água, lugares e sensações que vão deixar saudade.  Em pouco tempo percebemos que a maior riqueza de Ometepe é mesmo seu povo, a simplicidade e o jeito hospitaleiro de receber as pessoas sem pedir nada em troca. Aqui ninguém vai te oferecer passeio, empurrar artesanato, se alguém te oferecer alguma coisa por aqui será simpatia e não vai aceitar nem um centavo em troca.

Seguindo para a cidade colonial de Granada

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Category : Diário de Bordo

7 Comentários → “Nicarágua, esqueça as guerrilhas, conheça o país e se encante com seu povo !”


  1. Laura Helena Horstmann

    13 Anos ago

    Muito legal Eduardo…o celular chegou em todos os lugares mesmo…o cara de carroça. mas com a tecnologia na mão! Adorei os vulcões! Boa viagem no Ometepe….

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  2. Mancha

    13 Anos ago

    Sensacional Pimenta, é muito bom ter nossas impressões corrigidas sobre países como a Nicarágua, realmente a imagem que temos desse país é de um país devastado pela guerra e na verdade é um país super bonito1 Show de bola!!!

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    • eduardo

      13 Anos ago

      É isso aí Mister Mancha, estamos sempre descobrindo novos destinos e repassando esta experiência aos amigos que gostam de novas experiências. Continue acompanhando que vem muita coisa pela frente ! Grande abraço !

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  3. Thereza e Tom Maia

    13 Anos ago

    Eduardo, Parabéns pela idéia, roteiro e ação. O Museu Frei Galvão ficará honrado com um relatório sobre a viagem e as belas fotos. Boa viagem e, mais uma vez, parabéns por tudo!
    Thereza e Tom Maia

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    • eduardo

      13 Anos ago

      Caros amigos, é uma honra ter pessoas tão especiais como vocês que já executaram projetos magníficos, viajando com os nossos boletins. Ficaremos felizes poder um dia compartilhar nossas experiências numa palestra ou exposiçào em nosso querido Museu Frei Galvão. Abraços !

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  4. William

    13 Anos ago

    Muito bom! É bom saber que mesmo na Nicarágua, um país tão pouco citado além os problemas dos Sandinistas e dos Contras, também tem um charme especial… a ponto de fazer com que vocês usem o nome de uma de suas ilhas para batizar o lar ambulante.

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    • eduardo

      13 Anos ago

      É mesmo William, temos nos surpreendidos bastante com lugares que são rotulados e que posteriormente ficamos mesmo encantados com a passagem ! Batizar a nossa casa rodante com o nome da Ilha foi de total sintonia, pois como Ometepe, nosso carro é simples, valente e sempre pronto para novos desafios ! Abraços

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