Enviando o Motorhome para o Panamá

Posted on setembro 23, 2011 // 13 Comments

Este boletim provavelmente será muito bem visto pelos futuros aventureiros que pretendem cruzar as Américas a bordo de um motorhome, veículo normal ou até mesmo numa moto. Existem algumas opções para envio de veículos do hemisfério sul ao hemisfério norte e isto vai depender da disposição do viajante de conhecer a Colômbia ou não. O envio de qualquer veículo se faz necessário por não termos uma estrada que faça a comunicação entre as duas Américas, um caminho que una à Colômbia ao Panamá, no chamado Darien Gap, ou estreito de Darien.

        

       

                

       

Tivemos notícias que anos atrás funcionava uma linha de ferry-boat de Cartagena para Colón, onde transportavam veículos por um custo bem compatível, cerca de 300 a 500 dólares, dependendo do veículo. Depois de muitos problemas com envio de drogas dentro dos veículos este serviço foi cancelado, pelo menos esta é a versão dada pelos colombianos. Sendo assim, nos resta então a opção de utilizarmos o serviço das empresas de navio mercante que transportam todo o tipo de mercadoria e de várias formas também. Em termos de portos, temos opções de envio por Valparaíso, no Chile, Buenos Aires, na Argentina, Manta, no Equador e finalmente  Cartagena, na Colômbia, o extremo norte da América do Sul. Existem outras opções de portos, mas estas têm sido as mais utilizadas pelos aventureiros e viajantes. Como queríamos conhecer a Colômbia, mesmo sabendo de todos os riscos listados, optamos pelo envio através do porto de Cartagena. Este tipo de processo é praticamente impossível fazer por conta própria considerando toda a morosidade e burocracia envolvida no despacho. O serviço cobrado por um agente realmente irá te poupar uma grande dor de cabeça, fora os gastos que terá nas idas e vindas na área do porto. Como tínhamos algumas referências obtidas com viajantes pelo caminho, fomos até os escritórios para checar o serviço oferecido. Enquanto estávamos esperando para organizar este transporte conhecemos dois casais encantadores. James e Dale são americanos, do estado de Montana e estão cruzando as Américas a bordo de um motorhome 2 metros maior que o nosso. Ficamos bem amigos e dividimos um estacionamento no bairro de Boca Grande em Cartagena.

      

                

      

Conversamos bastante com os dois e trocamos informações e mapas dos dois lados, da América Central e acima e Colômbia e países abaixo. O outro casal muito simpático e agradável que também conhecemos foi Alicia e Joe, ela colombiana e ele americano de New Jersey. O casal passa 6 meses na Colômbia num apartamento que compraram em Cartagena, no inverno americano, e os outros 6 meses nos Estados Unidos. Fomos convidados para almoçar e comemos um prato delicioso preparado por Alicia. É claro que James e Dale também estavam presentes. Depois ainda demos um giro pela cidade e nos divertimos bastante. Este é um dos grandes prazeres de viajar, conhecer pessoas, fazer novas amizades, são situações que levaremos para o resto de nossas vidas, pois ser solidário é um grande trunfo neste tipo de aventura. Voltando ao envio, acabamos optando pela empresa Enlace Caribe, localizada no bairro de Manga, não muito distante do centro de Cartagena. A empresa é bem familiar e fomos recebidos pelo proprietário Ernesto e sua esposa Sônia, e tivemos uma explicação de como funciona todo o processo de exportação. Ernesto nos mostrou as várias formas de envio e disse que o custo varia de acordo com a escolha. A primeira opção é a mais barata, colocar o veículo dentro de um container, conhecido como LoLo (Load). Para esta opção o seu veículo não pode ter mais de 2,60 metros de altura, pois esta é a altura máxima de um container fechado.   Se você estiver viajando em dois carros tipo Land Rover será melhor ainda, pois poderá embarcar os dois carros num só container e assim dividir as despesas.  A segunda opção é o sistema Flack Rack, uma espécie de container plataforma, onde os veículos são colocados e depois embarcados no navio. Nesta opção há riscos de danificar o veículo com as tiras que são utilizadas para levantar a plataforma. Este foi o sistema utilizado por James e no final o veículo saiu com vários danos na lataria. A terceira e melhor opção é o sistema RoRo (Roll On / Roll Off), também é o mais caro, neste caso o veículo é embarcado de forma simples, ou seja, o condutor entra dirigindo o veículo dentro do navio, sem riscos. Desta forma o veículo fica protegido da maresia e de intempéries, pois está perfeitamente estacionado no interior do navio, num local apropriado para embarque de veículos. O sistema RoRo é o mais utilizado para exportação de veículos e de máquinas pesadas em todo mundo, devido a sua confiabilidade, segurança e o baixo risco de acidentes. Sabendo de todos estes benefícios e considerando a altura do nosso motorhome, optamos por este sistema RoRo, mas o valor do frete é difícil de engolir. A travessia entre a Colômbia e o Panamá dura cerca de 18 horas de navegação. O preço é cobrado por metro cúbico, ou seja, é só multiplicar a altura X largura X comprimento e você terá o valor do seu veículo. Nosso motorhome tem 2,15 de largura, 3,15 de altura e 7,50 de comprimento, resultando em aproximadamente 50 metros cúbicos. O preço cobrado foi um pouco confuso, 50 dólares por metro cúbico e mais uma tal “taxa de combustível” de 25% (não sei qual é a base para o calculo desta taxa ??!!) sobre o valor final. Adicione ainda o valor do serviço do agente de 170 dólares e mais as taxas portuárias perfazendo um total de 3.400 dólares americanos. Na verdade até o Ernesto se sente desconfortável ao dizer o valor desta taxa e diz estar nas mãos destas empresas que cobram valores aleatoriamente, “nunca sabemos o valor exato que vão cobrar”, comenta Ernesto. Deveriam saber, pois é um serviço de transporte comum e ter um valor de metragem já estabelecido seria bem maios coerente.  Achei o valor extremamente caro considerando que são apenas 18 horas de navegação, mas como não há concorrência, apenas duas empresas fazem este transporte, eles cobram o que querem.  

      

      

Em termos comparativos,  um frete da China para o Brasil para transporte de um veículo custa 2.500 dólares,  só que a distância entre os dois países é no mínimo 20 vezes maior que a distância entre o porto de Cartagena, na Colômbia e o porto de Colón, no Panamá, para onde os veículos são enviados.  Depois de acertado o valor, iniciamos todo o trâmite para o transporte, deixamos cópias dos documentos nossos e do veículo, cópias do passaporte e do documento obtido na aduana colombiana quando entramos no país. Depois de entregue os documentos o Ernesto, esposa e filhos se encaminham do resto. O porto está localizado longe da cidade, portanto toda viagem até lá é cara e cansativa. Deu para perceber que os funcionários do porto não estão preocupados com os turistas acidentais que aparecem de vez em quando no porto e sim com o grande volume de exportações. Por isso, sem um agente local você vai tomar uma canseira e vai ficar indo de um lado para o outro sem resposta. Até com tudo arrumado passamos por demoras e desencontros, e ainda tem o espanhol rápido e atropelado dos cartageneros que é difícil de entender. Tivemos que ir apenas duas vezes ao porto já com os papéis todos prontos. A  primeira para deixar o motorhome e a outra para fazer a inspeção de narcóticos com a polícia. Na segunda vez ficamos cerca de 5 horas dentro do porto, e após uma revista minuciosa dos agentes, que vistoriaram  todos os compartimentos do motorhome, voltamos ao hotel. 

      

      

      

No dia seguinte voltamos ao escritório da Enlace Caribe e acertamos o valor do frete, não há uma nota de pagamento, apenas um recibo e a documentação para a retirada no Panamá. Deixamos o escritório do Ernesto satisfeitos com o serviço prestado mas o valor do frete ainda paira sobre minha cabeça em relação à cobrança. No dia seguinte fomos ao aeroporto e embarcamos para a cidade do Panamá, 1 hora e 20 minutos de vôo e o custo da passagem foi de 330 dólares por pessoa. Viajamos confortavelmente num destes jatos novos fabricado pela EMBRAER, de São José dos Campos, é o nosso Brasil rompendo as fronteiras de tecnologia, ficamos orgulhosos por mais esta conquista.

Category : Diário de Bordo