Galápagos, um arquipélago incomparável e paradisíaco !

Pense num lugar de águas transparentes, espécies animais que não se incomodam com a presença do ser humano, uma vida marinha com milhares de espécies, um lugar onde você pode mergulhar com lobos marinhos, tubarões, raias, tartarugas e mais uma infinidade de peixes e nenhum deles irá te atacar. Junte tudo isso a praias maravilhosas, areias brancas, temperaturas agradáveis, parece sonho mas não é, este lugar existe e se chama Galápagos. Estive visitando as ilhas em 1991, a convite do governo do Equador, num tour especial para jornalistas brasileiros com o objetivo de produzir reportagens para divulgar este destino. Junto comigo estava Ronaldo Ribeiro, atual editor da National Geographic, e na época fizemos uma reportagem para a recém criada revista Terra. Atualmente muita coisa mudou, até a nossa estimada Revista Terra não existe mais, mas devo dizer que Galápagos continua um lugar fantástico e incomparável para se conhecer. Com a experiência da minha outra passagem, pude elaborar um roteiro que contemplasse as ilhas mais interessantes do arquipélago. Ainda no Peru, iniciei a pesquisa na internet para escolher a forma de visitar as ilhas. Com certeza, a melhor opção é entrar num cruzeiro marítimo, assim os deslocamentos são tranqüilos e suaves. Outra boa dica é optar por uma embarcação tipo catamarã, com dois cascos que proporciona uma navegação mais confortável que os navios de mono casco.

     

 Galápagos foi durante séculos uma das regiões mais inóspitas do planeta e servia apenas como ponto de parada para descanso de navegadores e piratas. Após longas travessias sem ver terra firme, Galápagos aparecia no horizonte como uma visão animadora e reconfortante. A origem do nome “Galápago” é uma corruptela de “galopar” criada pelos espanhóis, que cavalgavam sobre estas tartarugas gigantes antes de matá-las para obter o óleo que utilizariam nas lamparinas. Outro grande problema era quando eles deixavam as ilhas, em poucos dias de parada, enchiam os porões destas tartarugas gigantes que viviam longos períodos sem se alimentar e serviam como alimento durante a viagem.

                          

Esta triste retirada acabou exterminando algumas espécies únicas das ilhas, deixando, por exemplo, o solitário George, como único indivíduo da sua espécie e que agora reside na estação Charles Darwin, sem uma fêmea para copular. O primeiro morador de Galápagos foi um irlandês chamado Patrick Watkins que foi abandonado por lá em 1807. Watkins passou dois anos plantando vegetais e trocava-os por rum com os navegadores. Em 1809, ele roubou um barco e fugiu para Guayaquil. O arquipélago é composto por 13 ilhas principais e 5 ilhas pequenas, além de alguns pequenos ilhotes. É considerada a segunda maior reserva marinha do planeta, ficando atrás apenas da Grande Barreira de Corais, na Austrália. Ocupa uma superfície de 8 mil quilômetros quadrados e está localizado cerca de 1.100 km distantes da costa de Guayaquil, no Equador.

       

Em 1939, o arquipélago foi declarado Reserva Nacional e em 1959 foram criados ao mesmo tempo a Fundação Charles Darwin e o Parque Nacional. Nesta época, o governo do Equador enviou ao arquipélago dois guarda-parques que iniciaram os trabalhos de preservação das áreas. A partir desta data, todas as ilhas desabitadas foram declaradas parque nacional e a partir daí nenhuma pessoa poderia ocupá-las.  Nas ilhas existem ecossistemas de fauna e flora únicos e ainda estão inseridas em zonas vulcânicas mais ativas do planeta. Só na ilha Isabela, a maior do arquipélago, existe 5 vulcões ainda ativos. A última erupção ocorreu em 2006 e o derramamento de lavas mudou de certa forma a topografia da ilha. Na verdade, quando acontece qualquer movimento sísmico na região, alterações são registradas em vários pontos do arquipélago.

      

      

Segundo Galo Herrera, guia experiente nascido na ilha de San Cristóbal, no dia da última erupção ele conduzia um grupo de turistas e de longe podia ver o espetáculo de imagens do vulcão cuspindo lava para o alto. Galo monitorava a temperatura da água enquanto os turistas faziam snorkle, mas aos poucos todos voltaram para o barco para evitar acidentes. O visitante mais ilustre de Galápagos foi o naturalista inglês Charles Darwin, que viajou a bordo do navio britânico “H.M.S. Beagle”, capitaneado pelo grande explorador Robert Fitz Roy, que tinha como principal objetivo explorar e mapear as regiões poucos conhecidas do Hemisfério Sul. Darwin visitou somente 4 ilhas, primeiramente passou por San Cristóbal, depois seguiu para Floreana, e por último as ilhas de Isabela e Santiago. Com apenas 24 anos, Darwin permaneceu 35 dias no arquipélago e durante sua estada fez coletas de plantas e animais, assim como observações da vida selvagem. Seus aprofundados estudos serviram, 30 anos mais tarde, para embasar sua teoria sobre a evolução das espécies, que mudaram o conceito da vida para sempre.

      

      

Atualmente, os visitantes mais comuns podem, sem esforço, perceber as alterações das espécies de acordo com cada ambiente em que elas se encontram. As iguanas, são um grande exemplo disso, terrestres e marinhas, cada espécie passou por mudanças para se adaptar a seu habitat.  É a única espécie de lagarto do mundo que vai ao fundo do mar para comer algas marinhas. Para nadar melhor em água revolta e ondas que se chocam com as pedras, ela desenvolveu uma cauda plana, diferente das terrestres, que é roliça. As iguanas terrestres são amarelas e as marinhos são pretas, para melhor se aquecerem ao sol, pois são répteis cuja temperatura do sangue varia com o ambiente e, no fundo do mar, elas chegam a 17ºC. Outro diferencial são as unhas, fortes e compridas servem para se manterem presas ao fundo do mar agitado enquanto comem.

      

      

       

As iguanas marinhas desenvolveram também uma glândula na parte superior do crânio que processa a água do mar, espirrando o sal pelas narinas. Depois de pousarmos na Ilha de Baltra, onde está um dos aeroportos de Galápagos, seguimos para a Ilha de Santa Cruz. No dia seguinte pegamos um barco rápido e iniciamos nossa exploração em Galápagos, pois tínhamos 2 dias antes de entrarmos no cruzeiro. Nosso primeiro destino foi a ilha Isabela e de cara já observamos centenas de iguanas marinhas sobre uma plataforma de lava e areia, bem ao lado da praia. Alguns quilômetros no interior da ilha, uma lagoa abriga uma dúzia de flamingos, que ao contrário de outros locais que passamos em nossa viagem, não se incomodam com a presença do homem. Acho que este é mesmo o maior atrativo de Galápagos, todos os bichos do arquipélago não se incomodam com a nossa presença, assim é possível chegar a poucos metros destas espécies sem incomodá-las. 

        

       

Acho que poucos lugares no planeta você terá um contato tão intenso com animais diversos, como fazer snorkle e nadar rodeado de lobos marinhos, mergulhar com tubarões-martelo ou percorrer trilhas caminhando entre atobás de patas azuis. Estas são apenas algumas sensações que você vai sentir quando visita este lugar mágico. O que nos deixa muito felizes é perceber que as ilhas estão preservadas, nenhum local dentro dos limites da unidade pode ser visitado sem a presença de um guia credenciado pelo parque. Todas as trilhas que passam por animais são devidamente marcadas e identificadas e nenhum turista pode sair destas marcações. Mesmo com todas as restrições, você vai entrar em êxtase vendo de bem perto espécies endêmicas, ou seja, que jamais verá em outro lugar. Como simples visitantes, parece que estamos em outra dimensão ou passamos por um portal e entramos num planeta onde os bichos não se importam com outros seres vivos, não tem medo de predadores. Letícia que jamais esteve num local como este antes, ficou literalmente encantada com a Ilha Espanhola, pois na Punta Suaréz caminhou entre iguanas, atobás, viu de perto os majestosos albatrozes com seus filhotes e ainda centenas de iguanas marinhas, tudo isso num só lugar.

         

       

        

Em outra parte, na baía Gardner, mais de 100 lobos marinhos deitam e rolam nas areias brancas da praia. A cor da água é convidativa para um mergulho entre os lobos. Espanhola é realmente uma ilha inesquecível, pois estas imagens foram as mais marcantes na minha outra passagem por Galápagos.  Seguimos nosso cruzeiro, mesclando caminhadas e paradas para fazer snorkle, uma boa combinação para conhecer o arquipélago dentro e fora d’água. E foi num destes mergulhos que tive uma das mais incríveis sensações da minha vida, quando ao meu redor mais de 5 lobos marinhos mergulhavam e saltavam, parecendo se exibir para as minhas câmeras.

        

        

       

       

Os mais atrevidos eram os filhotes, que chegavam a tocar o visor da câmera com o focinho de tão perto. Outros passavam como foguetes a poucos centímetros, confesso que o sentimento é uma mistura de fascínio com medo, pois uma mordida destes animais pode causar um grande estrago. As fotos mostram a distância que eu estavas deles, foram momentos realmente “inolvidables” (inesquecíveis). No final deu tudo certo, pude captar imagens espetaculares destes animais nadando e sair de dentro d’água ileso. Na verdade, não há registros de ataques de lobos a seres humanos, nem mesmo de tubarões, isto é devido ao perfeito equilíbrio nestes ecossistemas de Galápagos, onde todas as espécies tem alimento suficiente para sua sobrevivência.

      

      

      

Deixamos Espanhola e agora nosso destino era a Ilha de Floreana, cercada de história e de mistérios também. É nesta ilha onde encontramos o Post Office, local utilizado pelos antigos moradores como correio.

        

Segundo os relatos de antigos moradores, cartas eram colocadas numa espécie de barril protegido das chuvas e quando os navegadores passavam por ali levavam para o continente e eram enviadas aos seus destinos. Atualmente esta tradição se mantém com os turistas, que deixam cartões postais com o próprio endereço para ser coletado por algum conterrâneo que passe pela ilha e possa entregá-lo ao dono pessoalmente. Procuramos um cartão do Brasil mas não encontramos, que pena, de qualquer forma deixamos os nossos para que os futuros visitantes do Brasil possam encontrar e algum dia nos entregar. Voltamos ao nosso catamarã e navegamos até o Leon Dormido, um rochedo gigante no meio do oceano com uma forma peculiar. De longe parece pequeno mas ao lado dele as dimensões são outras. Fizemos uma parada para mergulho e o que se vê entre as duas rochas são milhares de peixes coloridos e tivemos também uma grande surpresa, alguns tubarões e raias manta passavam por nós sem qualquer ameaça.

        

        

        

Em algumas ilhas, as praias parecem pinturas e caminhar sobre a areia branca, observando lobos nadando, aves marinhas nas rochas, são cenas que não passam pelo nosso imaginário. Depois de Floreana seguimos para San Cristóbal, a segunda ilha mais populosa do arquipélago, onde vimos um busto de bronze homenageando o nobre visitante Charles Darwin. Curioso foi ver lobos marinhos dormindo aos pés do busto do naturalista. Em San Cristóbal está o outro aeroporto do arquipélago capaz de receber aviões grandes que vem normalmente de Quito ou de Guayaquil. Falando em chegadas de avião, Galápagos recebe anualmente cerca de 90 mil visitantes e este número só aumenta, mas o maior problema do arquipélago é a introdução de animais domésticos nas ilhas San Cristóbal e Santa Cruz, onde habitam cerca de 22 mil pessoas.Esses locais estão repletos de cachorros, gatos, ratos, cavalos, burros, porcos, cabras e sementes de plantas que viraram praga. O parque tem desenvolvido várias campanhas de conscientização dos moradores para a retirada destes animais mas este trabalho é difícil e complicado. Algumas espécies exóticas, como o porco selvagem são caçadas e exterminadas das ilhas. Atentos a fragilidade dos ambientes de Galápagos, a maioria dos guias locais tem se preocupado com estas questões e passam as informações a seus familiares.

      

            

A cada ilha visitada, a cada novo mergulho nos surpreendemos ainda mais com a beleza das praias, o tons das águas, os cenários são dignos de um paraíso. Na verdade há muitos lugares maravilhosos para conhecer, passamos por apenas metade das ilhas, mas pudemos ter a certeza de que estar em Galápagos é fascinante e indescritível. Ter este contato direto com os animais na natureza sem qualquer perigo é memorável. Ver crianças interagindo com os bichos dentro e fora d’água é algo que não imaginamos. Esperamos que as novas gerações de galapaguenhos e visitantes ajudem a manter o arquipélago cada vez mais distante da depredação e assim preservar este ambiente único e fantástico do nosso planeta.

Digg This
Reddit This
Stumble Now!
Buzz This
Vote on DZone
Share on Facebook
Bookmark this on Delicious
Kick It on DotNetKicks.com
Shout it
Share on LinkedIn
Bookmark this on Technorati
Post on Twitter
Google Buzz (aka. Google Reader)

Category : Diário de Bordo

9 Comentários → “Galápagos, um arquipélago incomparável e paradisíaco !”


  1. Fábio Murat

    14 Anos ago

    Pimenta,

    as fotos estão bárbaras e o texto nos traz total dimensão como o lugar é maravilhoso.

    Acredito que deverá ser o lugar mais interessante de toda a viagem. Já poderia vir embora e matar a saudade dos amigos. Brincadeira.
    Um grande abraço e boa viagem, pois mais emoções virão ainda.
    Fábio Murat

    Comentar

  2. Daniel Costa

    14 Anos ago

    Eduardo, parabéns, belo post!
    Galápagos já entrou para a minha ´bucket list´.
    Abraços e boas andanças!
    Daniel

    Comentar

  3. Gisela

    14 Anos ago

    Que sensacional poder captar tanta coisa linda, através das lentes da sua sensibilidade e compartilhá-la conosco!

    Comentar

  4. José Leotti

    14 Anos ago

    Prezados Eduardo/Leticia: Tenho acompanhado voces com o mais vivo interesse, pois também sou motorhomeiro, e um dos meus sonhos após viajar pelo Brasil é conhecer a Am.Sul, começando por Ushuaia, isso para daqui a uns dois anos, pois ainda exerço atividades. Sou gaúcho de Cachoeirinha. As suas fotografias são simplesmente extraordinárias, fazendo que a gente se transporte para o local onde foram tiradas. A narrativa também é muito boa com detalhes importantíssimos para quem pretende viajar um dia, por onde voces passaram. Acredito que voces estão com muita dificuldade de comunicação, pois as suas atualizações do Diario de Bordo estão levando até mais de um mês para chegar. Aceitem meus cumprimentos pelo excelente trabalho e grande abraço, com o desejo sincero de que o Patrão Velho lá de cima olhe muito por voces e os proteja no seu caminho que ainda é longo.
    Abs.
    José Leotti.-

    Comentar

  5. Norberto e Lumen

    14 Anos ago

    Olá Eduardo e Letícia. Maravilhosas imagens. Tem bicharedo manso, dorminhoco e até abusado (usando o tripé… aí já é demais…) mas ao que parece todos muito receptivos. E nós aqui em Blumenau com 15 dias de chuva e frio… que inveja. Já que não podemos ir para Galápagos, dia 4 vamos para a Chapada dos Veadeiros.
    Abraços,
    norberto e lumen

    Comentar

  6. Colaço

    14 Anos ago

    Oi Eduardo,
    Neste texto/fotos vocês se superaram. Muito bom.

    Comentar

  7. norberto e lumen

    14 Anos ago

    Atobás de patas azuis e vermelhas: ontém não tinha observado – que loucura de beleza…
    Abraço,
    norberto

    Comentar

  8. luiz eduardo caminha

    13 Anos ago

    Prezados Eduardo e Letícia,

    Parabéns!!! Vocês se superaram nestas fotos. Bem que o Fantástico poderia ficar antenado em vocês o tempo todo. A Revista Global, pelo menos, estaria mostrando imagens sensacionais feitas por nacionalissimos brasileiros.

    Fotos e relato fantásticos!.

    Deus os abençoe,

    Caminha

    Comentar

  9. AURELIO RAPOSO

    13 Anos ago

    CAROS AMIGOS EDUARDO E LETICIA GALAPOS É UM VERDADEIRO ESPETÁCULO MUITO OBRIGADO E BOA VIAGEM

    Comentar

Comentar → Norberto e Lumen

About Us

Lorem ipsum dolor sit amet, consectetuer adipiscing elit. Praesent aliquam, justo convallis luctus

Read More

Connect

If you like to stay updated with all our latest news please enter your e-mail address here