As Linhas de Nasca e seus mistérios.

Depois da passagem sempre interessante pela cidade perdida de Machu Picchu, seguimos para outro local não menos intrigante e misterioso do Peru e que atrai até hoje ávidos visitantes e ilustres pesquisadores. Estamos falando das famosas Linhas de Nasca, estes geoglifos que há centenas de anos foram gravados em extensos planaltos do deserto peruano. Para chegar à Nasca, partindo de Cuzco, percorremos estradas sinuosas e seguimos cortando vales e montanhas. As estradas são boas, alguns trechos requerem cuidados por serem zonas de desmoronamento de encostas, atentos às pedras soltas que caem sobre a pista. O movimento da estrada é pequeno, poucas vezes cruzamos com algum veículo no sentido contrário. De qualquer forma a rodovia é peculiar pelas suas paisagens majestosas de montanhas cortadas por rios ora estreitos, ora caudalosos.

     

     

As subidas são longas e repetidas, impressionam, por várias vezes descemos grandes vales e depois subimos novamente, é a única forma de transpor esta região. É praticamente impossível viajar de Cuzco à Nasca num só dia, o ideal mesmo é dormir no caminho. Há hotéis razoáveis no trajeto e se estiver viajando num motorhome a opção é dormir em postos de combustível que são seguros. Pernoitamos em Abancay, num posto da estrada, localizado cerca de 5 quilômetros logo após a cidade. No dia seguinte voltamos a transpor montanhas, desta vez em áreas rurais onde pudemos ver vários peruanos trabalhando a terra. Famílias inteiras envolvidas na colheita e plantio de milho, mandioca e principalmente aveia. Aos poucos chegamos ao topo da zona montanhosa e paramos o carro para registrar a paisagem. Durante a nossa parada observamos um motorhome vindo serra abaixo, era um casal de suíços que viajavam também num carro-casa, cruzando as Américas no sentido oposto ao nosso. Trocamos algumas informações, o que é sempre útil, nos despedimos e voltamos para estrada.

     

     

            

      

Continuamos e de repente nos deparamos com centenas de lhamas, vicunhas e alpacas pastando. Uma cena bucólica e comum nestes campos de altitude. No topo, a paisagem começa a mudar drasticamente, o que eram montanhas verdes repletas de plantações agora são dunas, montes áridos e sem vegetação. Atingimos às planícies desertas do litoral peruano, descemos a longa serra e chegamos à Nasca. A cidade localizada na zona costeira do departamento de Ica está a 440 quilômetros distantes da capital Lima.

     

     

Com o objetivo de observar as linhas e sabendo que a única forma é através de um voo panorâmico, fomos até o aeroporto da cidade consultar sobre os horários. Letícia a esta altura já estava ansiosa para conhecer as linhas do alto, eu nem tanto, pois na minha última passagem por aqui acabei desmaiando durante o voo, tentando fotografar e filmar as linhas. Meu labirinto ficou completamente confuso, olhando dentro do visor das câmeras de foto e de vídeo. Isto sem falar no vômito voando no interior do avião, dando um banho nos outros companheiros de voo, ainda bem que eram todos conhecidos e no final foi só risada de toda aquela cena tragicômica. Esta experiência serviu pelo menos para desta vez escolher uma aeronave mais confortável e apropriada, bem diferente do pequeno monomotor quente, abafado  e apertado. Voamos num avião maior, para 16 lugares, turbo hélice e com ar condicionado, ou seja, fizemos um voo tranquilo, agradável sem qualquer problema. Desta vez pudemos observar cada figura com calma e riqueza de detalhes. Letícia se encantou com os desenhos e a todo tempo questionava a origem das linhas.

      

      

      

Eu, mais uma vez estou impressionado com esta obra executada no grande deserto. Pousamos e fomos à procura de algumas respostas em relação à autoria e feitio destas misteriosas linhas. Depois de conversar com historiadores, guias locais e checar livros sobre a cultura peruana podemos afirmar que as linhas foram executadas pela civilização pré-inca conhecida como Nasca, entre os anos de 100 e 600 D.C. Além de os renomados geoglifos, a cultura Nasca deixou um legado cultural incomensurável que passa pela bela cerâmica, a fina arte de tecer com notável iconografia. Se você tiver mais tempo em Nasca não deixe conhecer também os aquedutos subterrâneos,  obras de engenharia complexas realizadas há mais de 200 anos. Vale conhecer na estrada a caminho de Lima, uma figura que pode ser vista de uma plataforma, bem na beira da estrada. Você também verá os aviões cruzando de um lado para outro sobre as figuras e ainda poderá ver o Cerro Blanco, a maior duna do mundo, com 2078 metros de altura.  

       

      

Os Nascas também foram exímios construtores, levantando uma série de pirâmides de elaborada técnica construtiva, empregando adobes de forma cônica, resistentes aos movimentos telúricos. Infelizmente pouco restou destas construções, que foram saqueadas e destruídas com a conquista dos espanhóis. Voltando as linhas, podemos dizer que até os dias de hoje estas figuras escondem segredos e mistérios que estudiosos e pesquisadores não conseguem explicar com certeza qual era a verdadeira função destes desenhos. Arqueólogos afirmam que os desenhos foram executados durante um período de 500 anos e existem duas versões e a mais consistente foi relatada pelo norte-americano Paul Kosok. O professor notou em suas medições que o sol se punha exatamente numa das linhas que observava. Imediatamente Kosok deduziu que se trataria de uma linha solsticial, traçada para indicar esta importante data no calendário agrícola dos povos antigos. A partir desta descoberta acredita-se que os “caminhos incaicos”, passaram a ser considerado um antigo e imenso calendário astronômico. Outra teoria formulada pelo investigador peruano Toribio Mejía Xesspe relata que estes caminhos ou trilhas sagradas eram utilizados para peregrinação, onde cada figura era utilizada para celebração de cultos e cerimônias religiosas. A teoria mais excêntrica diz que as linhas seriam um grande campo de aterrissagem de naves extraterrestres. É claro que esta última não tem qualquer fundamento lógico ou científico. Em nosso sobrevoo observamos cerca de 12 figuras no planalto, todas impactantes, as que mais chamam a atenção são: o beija-flor, a aranha e o macaco por ser um animal da selva, bem longe do deserto. Enfim, todos os outros desenhos vão tirar o seu fôlego durante o voo. De qualquer forma, não importa em qual teoria você acredita ser a mais palpável, quando você observa as linhas de Nasca de cima você terá uma única certeza, de que está vendo uma das mais incríveis obras executadas pelos povos antigos da região. As linhas e seus fabulosos geoglifos estarão desenhados na sua mente para sempre.

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Category : Diário de Bordo

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