Cambará do Sul e Cânion Fortaleza

Posted on abril 12, 2011 // 9 Comments

Nossa visita aos Aparados da Serra foi rápida, as trilhas na parte de cima podem ser feitas em poucas horas, tempo suficiente para se encantar com este maravilhoso cenário. Nosso próximo destino foi à pequena cidade de Cambará do Sul, pertencente ao último estado ao sul do país. O município é pacato e acolhedor e a impressão que se tem é que todos os habitantes são da mesma família. Chegamos numa hora boa, nos deliciamos com um gostoso almoço feito no fogão à lenha no restaurante Galpão Costaneiro, servido num ambiente tradicional e familiar. Fomos bem atendidos e durante o almoço uma chuva de granizo nos deixou um pouco apreensivos. Por sorte as pedras de granizo eram pequenas e não causou nenhum dano ao motorhome. Bem alimentados seguimos para o Parque Nacional da Serra Geral. O que pouca gente sabe é que este parque é uma extensão dos Aparados da Serra e administração é compartilhada, ou seja, uma só administração para as duas unidades. Na época da criação deste parque, o IBAMA tentou inicialmente anexar esta região ao parque dos Aparados mais a burocracia e a complicação nos trâmites inviabilizou esta ampliação e assim o caminho de criar uma nova unidade foi muito mais rápido para acelerar o processo de preservação desta área.   O maior atrativo deste parque é sem dúvida o Cânion Fortaleza que em minha opinião é um dos mais belos do Brasil.

            

As mudanças climáticas desta região do Brasil são repentinas devido aos fortes ventos, por isso observar o Cânion Fortaleza com tempo aberto é sempre difícil. Chegamos à portaria do parque, distante 22 km de Cambará, depois de percorrer uma estrada de terra cheia de pedras que judia um pouco de veículos normais, o ideal é estar num veículo alto e até 4×4. Reencontrei o amigo Endrino que fora meu guia numa longa caminhada nas bordas dos cânions feita na minha última passagem por aqui. Endrino sempre simpático e atencioso me deu boas-vindas e segui para o cânion. Como já era quase 5 da tarde não havia mais visitantes e a sensação de isolamento foi aumentando.

       

Obtive a autorização da direção para passar a noite com o motorhome no interior da unidade. Desta vez pudemos utilizar todos os benefícios do nosso novo motorhome, foi uma cena indescritível, estávamos parados ali no meio do nada, distante 30 km da cidade, com energia elétrica das placas solares, água na caixa d’água e aquecedor a gás para o chuveiro. De quebra ainda assistimos o Jornal Nacional na SKY, com a utilização da antena e o inversor para ligar os aparelhos, dá para acreditar numa situação dessas ? Foi muito bom pensar nessa autonomia de energia utilizando o sol como fonte, realmente valeu todo o investimento e as horas pensando neste projeto. O entardecer traz cores vibrantes e de repente um dos poucos representantes da fauna local dá as caras, um graxaim, um tipo de raposa que perambula pelos campos de altitude.

      

A noite chegou rápido, a temperatura caiu bruscamente e por volta das 10 da noite o termômetro já registrava 6 graus e a sensação térmica de 0 grau. No céu forrado de estrelas conseguíamos contemplar a silhueta das montanhas e no topo delas se via as luzes das cidades como Praia Grande e Torres, dando uma sensação de estarmos voando sobre aquela região. Não havia uma nuvem se quer e as expectativas para o dia seguinte eram perfeitas, considerando que todas as previsões meteorológicas diziam isto. Fomos dormir em êxtase, mas às 5 da manhã fomos surpreendidos por uma terrível tempestade com direito a muito granizo. Acordamos assustados e chocados com aquela cena. As pedras desta vez eram grandes e o barulho no interior do veículo era assustador. Na minha cabeça o medo de que estas pedras de granizo danificassem nosso carro, mas naquele momento nada poderia ser feito. Aos poucos a chuva foi diminuindo, as pedras viraram gotas e fomos nos acalmando. Não conseguimos mais dormir e assim ficamos ali aguardando que o dia amanhecesse. Parece incrível, mas por volta das 7 da manhã, novamente o seu estava claro e limpo, e o sol voltou a brilhar iluminando o grande cânion.

      

Arrumamos nossos equipamentos e um pequeno lanche e partimos para explorar o lugar. Caminhamos por cerca de 40 minutos e atingimos o topo da montanha, de onde é possível obter uma visão ampla de todas das formações, cachoeiras e vales formados pelo Cânion Fortaleza.  Registramos imagens, caminhamos pelo grande platô e conversamos com alguns visitantes que chegaram mais tarde. Em seguida regressamos ao veículo e partimos para visitar o outro grande ícone deste parque, a Pedra do Segredo. Paramos ao lado da placa que indicava o início da trilha e fomos conhecer a pedra. Depois de alguns minutos chegamos ao rio Camisas que se transforma numa estupenda cachoeira com uma seqüência de quedas. A travessia do rio é tranqüila, dependendo da época do ano, o nível das águas é alto e o visitante terá que molhar os pés. No verão é possível tomar um banho refrescante nestas águas geladas.

    

Mais alguns minutos e se tem a visão da belíssima cachoeira do Tigre Preto formada pelo rio que acabamos de atravessar. Seguindo a diante agora a caminhada segue pela borda do cânion, uma bela paisagem nos acompanha neste trecho e nos arbustos um pica-pau de cabeça amarela nos observa. Mais alguns passos e estamos ali de frente por esta formação curiosa onde uma rocha pesando algumas toneladas se equilibra sobre um pequeno pedaço de pedra, daí a origem do nome, Pedra do Segredo.

     

Voltamos para o carro, já era 4 da tarde, e regressamos para Cambará. Nosso ponto de parada foi o posto BR logo na entrada, sem problemas conseguimos autorização para pouso, mas ligar o cabo de energia não nos autorizaram. À noite conhecemos outro delicioso restaurante, o Casarão, onde saboreamos saladas com ingredientes orgânicos e um rodízio de massas com receitas legítimas italianas, imperdível !!

No dia seguinte partimos com destino as cidades de Gramado e Canela, ambas na serra gaúcha, um destino romântico em clima de montanha.

Category : Diário de Bordo