Quilotoa, um dos mais fantásticos vulcões do Equador !

Em nossa passagem pelo Chile, há alguns meses atrás, observamos dezenas de vulcões, sendo que de sul a norte eles estão por todos os lados. Presenciamos até uma erupção, a do vulcão Puyehue, deixando um rastro de problemas em praticamente todo planeta por suas cinzas expelidas. Agora estamos explorando o Equador e nos deparamos novamente com vários vulcões ao redor das estradas. Como não pretendíamos visitar todos eles, escolhemos os mais extraordinários. Acho que fizemos boas escolhas o vulcão Quilotoa, por exemplo, foge da descrição comum destas estruturas geológicas, com forma triangular, neve no cume e lava solidificada em suas encostas. Iniciamos nossa exploração e o ponto de partida foi à cidade de Latacunga, já castigada por erupções do vulcão Cotopaxi em anos passados.  

     

Latacunga está localizada a 89 km ao sul da capital Quito e tem cerca de 60.000 habitantes. A impressão que temos é que sua população não se preocupa tanto com uma eventual erupção, pois conversando com alguns moradores, a resposta sobre a questão do perigo é comum, ou seja, cresceram na cidade, todo o trabalho e negócios estão ali, ir para onde ? Assim você observa o município crescendo pelas bordas bem aos pés do gigante adormecido que a qualquer momento pode acordar.  A cidade dista apenas 25 km do vulcão e a maioria dos passeios aos atrativos da região parte da praça central. Não sei se é porque não estamos acostumados com este tipo de evento natural, mas viver ao lado de um vulcão que sem aviso prévio pode explodir arremessando lava e rocha a quilômetros de distância com certeza nos deixaria aflitos.

    

Mas a vida segue e nossa travessia também, portanto estamos na estrada rumo ao Quilotoa. Seguimos por estradas em construção, passando por pequenos municípios e adentrando na zona campesina do país. As obras pela estrada estão a todo vapor e ao longo do percurso há uma série de “PARE” e “SIGA”, onde só existe uma pista. Segundo os equatorianos, esta foi uma das maiores promessas do presidente eleito, melhorar as rodovias em todo país e parece que ele vem cumprindo o prometido. Continuamos nossa subida e cada quilômetro nos surpreendemos com a paisagem que vai se tornando mais bucólica e tranquila e pequenas propriedades estão todas cultivadas.

      

     

     

Paramos numa curva e avistamos duas crianças cuidando de lhamas que pastavam. Fomos nos apresentando, dissemos que vínhamos do Brasil e aos poucos nossas brincadeiras foram vencendo a timidez das crianças. Pablo e Cristina eram seus nomes e depois de algumas fotos divertidas, demos alguns biscoitos e chocolates a eles e seguimos viagem.  É notável como em poucos quilômetros o visual vai se alterando, mas ainda não vemos o vulcão. Quando pedimos informações para os locais eles nos disseram que não era necessário caminhar ou escalar a encosta do vulcão para ver a sua cratera e tentamos imaginar como seria esta situação. Passamos pelo último povoado antes da entrada do Quilotoa e uma placa já indicava que estávamos a poucos metros do destino. Deixamos o carro no estacionamento em frente a uma pequena pousada misturada com restaurante, onde vários mochileiros se encontravam. Parece mentira, mas com apenas poucos passos já estávamos boquiabertos de frente para a gigantesca cratera do vulcão, admirando a majestosa lagoa verde formada no seu interior. A imagem é surreal, não imaginávamos a magnitude das paredes rochosas circundando toda a boca do vulcão.

    

     

    

Olhamos para o seu interior e muitos visitantes baixavam até a lagoa, numa caminhada que leva cerca de 30 minutos para descer e uns 50 para subir. É claro que não podia deixar de ver ás águas de cor esmeralda da lagoa e desci até a base levando todo o equipamento para registro. Já na base, com as águas refrescando meus pés, aluguei um caiaque e segui remando por dentro da cratera, tendo a minha volta uma cena inesquecível do Quilotoa.  Apesar da instabilidade do caiaque voltei à margem sem acidentes. Por ali também algumas crianças equatorianas arremessavam pedras na linha d’água. Depois de alguns minutos de contemplação naquela paisagem pensei no próximo passo. Agora sim o bicho pega, a subida na areia fofa é de lascar e pelo menos havia a opção de subir no lombo de um burro.  A resistência deste animal já é conhecida dos brasileiros, assim paguei 10 dólares para a subida cômoda mas com certa adrenalina de passar pelas encostas do morro, com muita poeira, acompanhando atentamente os passos do animal. 

    

    

Letícia observou tudo de cima e não se animou na descida mas de qualquer forma a vista da borda já é realmente fantástica. Voltamos ao restaurante e almoçamos por ali mesmo, comida simples mas saborosa por apenas alguns dólares. De volta ao nosso carro, iniciamos o retorno em direção à Latacunga e de repente uma placa a beira da estrada chama nossa atenção sobre a venda de artesanato local. Sempre me interessa conhecer artistas por onde passamos, eles normalmente têm uma visão diferente de seu país além de muitas histórias para relatar. Desta vez não foi diferente, conhecemos Alfredo Toaquiza, conhecido pintor desta região que já teve suas obras expostas nos Estados Unidos e também no Brasil. Fomos recebidos por sua esposa e por ele em seu atelier e enquanto dava pinceladas em mais uma obra, Alfredo nos contava como surgiu à técnica utilizada em seus quadros, conhecida como “Pinturas de Tigua”. Alfredo nos relatou que este tipo de pintura surgiu nos Andes equatorianos e que a família Toaquiza foi percussora desta técnica. Inicialmente as pinturas eram feitas com pincéis de penas de galinha em máscaras e tambores festivos. Posteriormente estes desenhos foram sendo transferidos para quadros. Júlio transmitiu esta cultura para seus filhos e vizinhos e atualmente os habitantes de Tigua se converteram em renomados artistas. Quadros com a assinatura “Toaquiza” podem custar alguns milhares de dólares. É interessante notar que a grande maioria dos campesinos da região é analfabeta e os quadros se tornaram um álbum de recordações destes povos, pois retratam a vida cotidiana de cada família como mulheres bordando, lhamas pastando, paragens verdes envolvidas por tons de azul celeste. Depois desta pequena aula sobre a cultura Tigua, percorremos o final da estrada, tendo como pano de fundo o grande e temido vulcão Cotopaxi.

    

       

 O final de tarde proporcionou imagens espetaculares do vulcão com a cidade aos seus pés. Vendo por este ângulo ficamos imaginando o grande rio de lavas, ainda visível mas solidificado, descendo em direção as casas.  Já na cidade, o centro de Latacunga é simpático e bem conservado, construções antigas em estilo colonial, igrejas centenárias, é interessante o passeio. Ao lado da praça, paramos o motorhome em frente a um hotel com uma pizzaria. Quando regressamos, um senhor alto, com olhar curioso dava voltas em nosso carro. Quando nos aproximamos fomos recebidos por uma gostosa saudação: “Vieram do Brasil, que “chevere” (legal) ! Era um simpático casal de uruguaios, Juan e Gelim, interessados em nossa grande aventura pelas Américas.

        

    

Juan fotografou nosso veículo por dentro e por fora e nos convidou para uma deliciosa pizza no seu restaurante. Conversamos por horas após a pizza, muitos relatos de aventuras passadas e ainda pegamos algumas dicas com o casal que já havia viajado bastante pelo país, assim anotamos alguns lugares para conhecer que não estavam em nosso roteiro. Despedimos de nossos novos amigos e deixamos Latacunga para trás. Paramos num posto na estrada e dormimos carregados de imagens maravilhosas que passeavam em nossas mentes. No dia seguinte subimos em direção à base do vulcão Cotopaxi.  

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Category : Diário de Bordo

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