San Pedro de Atacama e suas paisagens extraordinárias !

Partimos de Antofagasta e seguimos para Calama, onde está a maior mina de cobre do mundo, a gigante Chuquicamata, ou apenas “Chuqui “como chamam os calamenhos. A estrada é boa, sem problemas, o único inconveniente é se você for surpreendido por uma tempestade de areia que se forma repentinamente no deserto e a visão se torna complicada e o seu veículo vai ficar com areia até no porta-luvas.  Calama, com cerca de 160 mil habitantes, ultimamente ganhou um título nada agradável, uma das cidades onde mais se rouba carros no norte do Chile. Atualmente as estatísticas apontam um número surpreendente, 10 veículos são roubados diariamente no município e são levados para a Bolívia, onde entram irregularmente no país com o aval do presidente Evo Morales.  Se estiver passando por aqui procure estacionamentos privados para deixar o seu veículo, na rua você poderá engrossar a estatística.

         

         

 Na estrada ainda cruzamos com um caminhão que estava sendo levado para outra mina da região, as dimensões superam qualquer estimativa feita à distância, nunca tinha visto de tão perto estes gigantes que transportam material dentro das minerações. Seguimos pela estrada e o nosso próximo destino estava entre os lugares mais espetaculares que iríamos registrar em nossa travessia, um dos desertos mais áridos do mundo e a capital arqueológica do Chile, a cidade de San Pedro de Atacama. A cidade está localizada na depressão altiplana a 2.438 metros de altitude e está limitada por duas grandes cadeias de montanhas, a oeste, com a Cordilheira de Domeyko e a leste, com a Cordilheira dos Andes. O clima de San Pedro é desértico de altitude, ou seja, sua característica é de mudanças bruscas de temperatura, ventos fortes e escassez de chuvas. Vale dizer que esta região é de intensa radiação solar e a oscilação térmica entre o dia e a noite é muito elevada. No mesmo dia, dependendo da época do ano, a temperatura pode variar entre 35 positivos a 5 graus negativos. Quando for a algum passeio é vital levar chapéu, protetor solar, blusa e muita água, pois qualquer mudança repentina não vai te pegar desprevenido. Depois de conhecer algumas características de San Pedro é hora de conhecer esta região e constatar por que é tão procurada e apreciada por turistas e aventureiros de todos os cantos. É claro que antes de sair da cidade, vale conhecer o pitoresco centro de San Pedro, onde está à igreja de mesmo nome, uma construção de adobe e barro com seu teto revestido com madeira de cactus. Em 1641 a igreja já funcionava como paróquia e em 1951 foi declarada Monumento Nacional. No entardecer, as luzes instaladas na borda do telhado saltam no céu vibrante do deserto. 

        

         

É no centro onde estão agências de turismo, restaurantes, lojas de artesanato e no final do dia sempre vale passear pelas vielas de San Pedro e aproveitar todo o charme do lugar. A praça central é repleta de árvores e no final da tarde é um bom lugar para se refrescar do calor, elas são uma espécie de filtro para as altas temperaturas. Outra coisa que nos dias de hoje é muito bem-vinda é que na praça e arredores de San Pedro há sinal WIFI gratuito, assim os viajantes fazem a festa mandando imagens, conversando com a família e atualizando o site, como era o nosso caso.  Outra peculiaridade de San Pedro é que o centro da cidade conserva a estrutura e a influência da colônia espanhola, com construções em adobe, tetos de palha e barro e com pátios interiores.  As ruas de terra foram tratadas com um produto derivado dos salares que permite conservar a estética original e causar menos poeira. Mesmo com estes artifícios ainda há muita poeira voando pelos ares da cidade e com a secura do deserto fica ainda pior, é bom tomar muita água. Mas nada disso altera a magnitude do Atacama, durante o dia e a noite centenas de turistas perambulam pelo centro, não se importando com os inconvenientes. A rua principal do centro, a Calle Caracoles, deve seu nome a uma antiga mina de prata, conhecida como Plata Caracoles, descoberta em 1870. Era deste ponto onde está a rua atualmente que os mineiros partiam para o trabalho na mina. Há muita coisa para conhecer no deserto e com certeza alguns atrativos ficarão para a sua próxima vinda ao Atacama. Seguimos para a mais fácil delas, o Vale da Lua, localizado a apenas 19 km de San Pedro, é uma grande depressão rodeada por montanhas com cristas afiadas modeladas pelo vento. Este espetáculo geológico formado há 22 milhões de anos, se transformou num vale que lembra paisagens lunares. Devido às grandes erupções acontecidas na região e a ligação com a cordilheira de sal, o Vale da Lua tem em suas formações rochas sedimentares intercaladas com sal, gipsita, clorato e argila, que em alguns pontos afloram. Dirigir por entre os enormes paredões rochosos é uma sensação única, por alguns momentos parece que estamos mesmo em outro planeta. A ausência de vida animal e vegetal neste grande planalto transforma este paisagem em um dos locais mais inóspitos das Américas.

        

        

        

        

Por estarmos de motorhome, ainda pudemos ir até o alto de uma das montanhas e observar o sol sumindo no horizonte. Na verdade o melhor vem depois que o sol se põe, com as cores fortes refletindo nos picos nevados que vão mudando de cor a cada minuto, é difícil descrever os tons proporcionados pelo céu do deserto. No dia seguinte partimos para outro local intrigante, a Laguna Cejar. Mesmo com todas as informações da laguna, quando chegamos ao local à definição é outra. Por mais que você saiba o que acontece é difícil imaginar a sensação de entrar numa água com grande salinidade fazendo com que o corpo flutue sem esforço. A temperatura da água é baixa, não dá para ficar muito tempo, mas vale a entrada. As bordas da lagoa estão cristalizadas pelo sal e não é aconselhável andar com os pés descalços, pois estes cristais cortam a pele com facilidade.

        

        

As cores da água contribuem para aumentar o espetáculo e as imagens registradas mostram o que eu tento descrever aqui. Depois da laguna fomos até a cidade de Socaire para um almoço típico, além de simpática a cidadela oferece pratos típicos atacamamenhos e procuramos um restaurante para conferir.  Após o almoço visitamos as igrejas de Socaire, construções típicas da região e tentamos ir adiante na estrada, até as lagunas Miscanti e Meniques. A quantidade de neve dos dias anteriores impossibilitou a nossa passagem e de outros veículos de agências, todos tiveram que retornar.  Encontramos uma camponesa chilena conduzindo seu rebanho de lhamas e ovelhas nas bordas da estrada.

         

        

        

Na volta entramos no Salar do Atacama, para ver de perto bandos de flamingos que se alimentam nas lagoas formadas no salar. Há várias espécies de flamingos que freqüentam o salar, a mais comum é o flamingo chileno que podem chegar a 100 mil indivíduos dependendo da época do ano. O salar ocupa uma área de 320 mil hectares e está localizado a 2.300 metros de altitude. Na sua superfície são observadas crostas de sal geradas pela constante acumulação de cristais produzidos pela evaporação das águas subterrâneas que possuem grande salinidade. Observando toda esta carga de sal das águas, fica difícil imaginar como algum ser vivo sobrevive neste ambiente demasiadamente hostil e salgado, mas existe sim, vários microorganismos, algas unicelulares, invertebrados e uma pequena espécie de crustáceo que é alimento dos flamingos e de outras aves que freqüentam este e outros salares da região.

         

        

               

Nesta nossa visita ao salar tivemos nosso primeiro pneu furado em virtude dos cristais de sal que pegaram na lateral do pneu causando vários cortes. A troca foi rápida, mas retirar e colocar o estepe no lugar foi complicado, o pneu é muito pesado e difícil fazer esta manobra sozinho. Até a Letícia teve que me ajudar na recolocação do pneu na traseira do motorhome. Voltamos à cidade e paramos no mesmo local, ao lado do campo de futebol, longe da poeira, na entrada do corredor de artesanato que vai até a praça central, afinal não podíamos encontrar um local mais bem localizado para o nosso veículo.  Durante a noite, nosso motorhome ficava bem guardado em nosso ponto de parada e saíamos caminhando para a praça, saboreando a boa comida de qualidade internacional dos restaurantes de San Pedro.  No dia seguinte partimos às 4 e meia da manhã para conhecer um dos maiores atrativos da região, os Gêiseres de El Tatio. Distante 90 km a norte de San Pedro, a visita aos gêiseres é um espetáculo imperdível. O melhor esquema é contratar o passeio por uma agência, pois mesmo se você estiver de carro, dirigir até os gêiseres é cansativo e desgastante, e ainda tem o pior, a estrada está péssima e vai detonar com o seu carro. Por estarmos com um veículo todo preparado, com tração nas 4 rodas, optamos por utilizar o nosso veículo para chegar a El Tatio. Foi um grande erro nosso, a estrada é cheia de desvios e bifurcações que só os locais conhecem e nesta época do ano ainda tem o agravante de neve na estrada. Uma semana antes da nossa chegada ao Atacama a visita aos Gêiseres de El Tatio ficou fechada e proibida durante 11 dias pelo excesso de neve. Muitos turistas deixaram de conhecer El Tatio pelo bloqueio da estrada. Nestas condições nenhum veículo passa, a polícia chilena é rigorosa neste aspecto. Voltando a nossa empreitada desastrosa, seguimos com o motorhome e aos poucos e depois de 20 km de estrada boa a situação foi ficando tensa, pois não havia, mas carros na estrada e ficamos confusos onde deveríamos seguir. Num certo ponto, sem qualquer aviso, avistamos uma curva com um pouco de neve e seguimos com cuidado. De repente nosso carro que tem rodagem dupla atrás, ou seja, duas rodas de cada lado ficou preso na espessa camada de neve que era para carros com apenas uma roda de cada lado. Tentei por várias vezes sair com o motorhome, mas ele afundava cada vez mais na neve.

         

                   

         

Este trecho deveria ter sido evitado, havia um desvio por uma rota lateral sem qualquer marcação ou indicação, só mesmo os motoristas locais para saber o local exato onde sair da estrada, bem antes daquela curva fatídica. Ficamos ali presos por muito tempo, como os veículos das agências já haviam passado por ali bem mais cedo, ficamos sozinhos tentando encontrar uma solução para sair dali. Comecei a cavar por todos os lados das rodas traseiras, retirar toda neve que segura à roda traseira de fora. Retirei neve por mais 1 hora o que me causou até um ferimento nas mãos. Depois de 3 tentativas frustradas, enfim na quarta tentativa consegui sair com o nosso carro. Foi um grande sufoco e a estrada foi ficando cada vez pior e cercada de neve. A quantidade de buracos e aquela estrada tipo “costela de vaca”, como chamamos no Brasil se tornava constante. Cada vez mais o arrependimento era maior por ter subido até El Tatio de motorhome. Depois de 5 horas na estrada e de todo sufoco passado, chegamos finalmente aos gêiseres. Já não havia mais ninguém, avistamos a última van com turistas partir e ficamos praticamente sozinhos no local. De qualquer forma, pudemos conhecer estes campos geotérmicos impressionantes, onde o vapor de água sai por fissuras na superfície alcançando temperaturas de até 85 graus. El Tatio é formado por 40 gêiseres, 60 termas e 70 fumadores, ocupando uma área de 3 km2. Normalmente os turistas chegam por volta das 6:30 da manhã para observar o sol nascendo e pelas baixas temperaturas, normalmente abaixo de zero, as fumaças que saem das fissuras podem chegar a 20 metros de altura. Alguns visitantes mais corajosos arriscam um banho nas piscinas com temperaturas de 40 graus, difícil é sair da piscina quente e encarar o frio fora delas, pois quando nós chegamos o termômetro marcava 10 graus negativos. Deixamos El Tatio e voltamos a San Pedro passando por mais alguns momentos tensos na estrada, serviu de lição, numa próxima situação deste tipo, com certeza deixaremos o nosso carro e seguiremos em veículos das agências. Mesmo que você esteja com carro pequeno, ou queira se aventurar até El Tatio não vale a pena, seu carro vai socar por horas nos buracos, vai ficar repleto de pó e tem mais, se você tiver um problema mecânico vai ter um trabalho enorme para rebocar seu carro da estrada até a cidade. Deixando de lado esta nossa investida desastrosa, fomos até uma agência e contratamos o passeio pelas Lagunas Verde e Colorada, já dentro da Bolívia. O passeio é espetacular, locais indescritíveis não só pelas paisagens como também pelas cores das lagoas. Com toda a minha bagagem de fotógrafo nunca vi nada parecido.

          

         

         

A laguna colorada com suas águas avermelhadas parece algo irreal. E o que dizer dos bandos enormes de flamingos que freqüentam a laguna tornando a visão ainda mais extraordinária.  No caminho, ainda cruzamos com um zorro colorado, caminhando pela neve com o olhar fixo em nossos movimentos. Junto com a gente neste passeio o simpático e agradável casal de Santa Catarina, Norberto e Lumen. Apesar da correria por termos saído tarde de San Pedro, pudemos conhecer estas duas maravilhas na região. Estas lagunas se encontram em um local completamente deserto, isolado e a 4.500 metros de altitude. Portanto, é arriscado e perigoso investir nesta região sem conhecer, os riscos são grandes e qualquer imprevisto pode custar caro. Esta região apresenta constantemente temperaturas abaixo de zero, ventos freqüentes e estradas confusas. No final do dia voltamos a San Pedro, ingressamos no Chile novamente e dormimos com aquelas imagens impressionantes relampejando em nossas mentes. No dia seguinte, por sorte, tivemos a chance de estar em San Pedro no dia da comemoração do seu padroeiro.

           

       

          

Vários eventos folclóricos e religiosos estavam previstos para aquele dia e pudemos ver ao vivo toda a evolução da comemoração dos atacamenhos. Assistimos procissões, danças típicas e pudemos registrar todo o colorido das vestimentas e a música tradicional deste povo alegre e valente. Alguns desfiles seguiram pelas ruas centrais de San Pedro, carregando imagens do Santo e a música local tocada por moradores contribuiu para um espetáculo ainda mais vibrante. Não esperávamos estar presente nesta comemoração e realmente foi um presente para a nossa passagem. Partimos do grande deserto extasiados com as imagens registradas, deixando para trás alguns atrativos para a nossa volta ao Atacama no futuro, por enquanto a experiência foi fascinante e inesquecível !  Pegamos a estrada e seguimos para Iquique.   

 

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Category : Diário de Bordo

9 Comentários → “San Pedro de Atacama e suas paisagens extraordinárias !”


  1. Nilva Rios

    14 Anos ago

    Parabéns pela viagem, pelos relatos e as fotos maravilhosas. Sucesso nesta bela travessia.
    Abraços

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  2. Carlito

    14 Anos ago

    Oi Eduardo

    Como você as vezes fica sem palavras, pode ter certeza que nos aqui do outro lado, também temos a mesma sensação. Só me restou dizer, parabéns!
    Grande abraço
    Estamos torcendo por vocês!
    Carlito, Rosane, Carol!

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  3. Artur

    14 Anos ago

    NOOOOSSA
    MUIIIIITO 10 ESSA PASSAGEM
    ESSA AVENTURA TA CADA VEZ MELHOR NÃO?
    BOA SORTE SEMPRE
    AGUARDO ANSIOSO O PRÓXIMO BOLETIM
    SAÚDE

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  4. Leila

    14 Anos ago

    Nossa quanta saudades de vocês…
    Está chegando o nosso encontro..expectativas mil!
    Bjs..Leila, Marco e Ana.

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  5. Monica

    14 Anos ago

    Que fotos lindas…..dificil dizer qual é a mais bonita!!!!!!Parabéns pelo boletim tão reacheado de detalhes e sempre nos surpreendendo, surpresa também foi saber que a minha amiga já ajudou na troca de pneus, daqui a pouco ela mesma vai fazer as trocas…kkkkk

    bjs grande e muitas saudades

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  6. Gustavo Filipo

    14 Anos ago

    Parabéns Pimenta…….que maravilha esse mundo de Deus!!! Obrigado por nos mostrar um pouquinho dessa aventura, que coragem, que paisagens fantásticas. Abraço

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  7. Marina

    14 Anos ago

    Olá! Conhecemos seu projeto dos Parques Nacionais primeiramente pela internet e depois na Adventure Sport Fair. Vamos fazer um trajeto muito, muito parecido. Sairemos em setembro e primeiro iremos para o Alasca e depois, em direção ao sul. Gostaria de saber se vcs tem parado o trailer em campings para dormir e quais seriam aqueles que vcs não indicariam. Um abraço e que continuem fazendo boa viagem!

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  8. Eduardo Elizeu

    14 Anos ago

    Oi Chara, tudo tranquilo?

    Que fala é o Duda que tem o motor home toyota!!!

    Acho que esse é seu ultimo relato né?

    Parabêns pela expedição!!! Muito legal, quem sabe um dia possa fazer a mesma travesia…..
    você disse que está no equador né? Que legal já passou em Montanhita? É muito legal parece com Mancora no Peru, eu pego onda tbm e já fui para Chile, Peru, Equador, Costa Rica e são lugares incriveis!!! Mais acho que você vai pirar com o visual da Costa Rica não deixe de passar uns dias na divisa do Panama com a Costa Rica, Pavones!!! este lugar tem a esquerda mais longas do mundo!!! é showwww. Cara quando estiver voltando, vi que seu roteiro passa por Ilheus, bom moro em Barra Grande na Peninsula de Marau, vou te falar que é um dos lugares mais lindos do nosso país. Bom já tem lugar para ficar na volta quando passar pela Bahia…
    Estarei aqui acompanhando sua viagem e esperando sua visita.

    Abração

    e boas ondas!!!!!

    Duda

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  9. Florencia Moreno

    14 Anos ago

    Muy bellas las fotos! fue un gusto conocerlos en esa laguna maravillosa! y todo un honor salir en la foto!!!
    Que sigan conociendo y disfrutando mucho de su viaje! saludos de La Serena!

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