Huaraz e Caraz, paisagens raras e a estrada mais perigosa da nossa travessia !
Depois de nossa passagem pela capital peruana, entramos na estrada em direção ao norte do país. É incrível, mais uma vez depois de conversar com peruanos mudamos nossos planos iniciais pós Lima. A dica veio de Luisfer, proprietário de uma pousada em Punta Hermosa, considerado um dos melhores lugares para surfar do Peru e da América do Sul. Sendo assim, resolvemos desbravar um destino bem pouco conhecido dos brasileiros que vão ao país, as montanhas de Huaraz e Caraz. Abandonamos a estrada principal que segue para o Norte e iniciamos uma longa subida em direção aos montes nevados. Curvas e mais curvas e à medida que subíamos, a temperatura baixava consideravelmente. Foram 7 horas de viagem até um grande platô aos pés das montanhas já com neve nos cumes. A primeira cidade é Huaraz e nosso altímetro no relógio já marca 3052 m. Como a noite chegara cedo, procuramos um posto seguro para passar a noite. A região é bem tranquila, Huaraz é a maior e mais importante zona agricultável do Vale de Huaylas e há muita gente do campo por todos os lados.
A cidade é cercada por grandes cadeias montanhosas, a cordilheira Branca de um lado e a Negra do outro. É nesta região onde se encontra o ponto culminante do Peru, o Monte Huascaran, com 6.768 metros de altura. Juntos com as grandes montanhas ainda é possível encontrar lagoas fascinantes, de cores surreais, uma delas é Llanganuco e a laguna Churup. Observamos dezenas de áreas cultivadas e é fácil perceber que o solo destas montanhas são riquíssimos em nutrientes.
Acordamos cedo e seguimos para a cidade de Huaraz. Na praça central o que chama nossa atenção são as lhamas de óculos escuros tirando fotos com turistas locais, uma cena bizarra ! A praça é bem cuidada, com chafariz, jardins mas a igreja matriz passa por reformas e está coberta por andaimes. Almoçamos por ali mesmo, comida boa e barata, e partimos para conhecer as montanhas e lagoas dos arredores. Os passeios saem em pequenas vans e vão até bem perto do gelo das montanhas. O tempo não estava dos melhores e não pudemos conhecer as geleiras de perto.
Nosso amigo Daniel, brasileiro que estava surfando em Punta Hermosa também se aventurou nesta região e nos enviou uma bela foto ao lado das paredes geladas. As lagoas da região também são de cores fantásticas, em tons de azul turquesa, pena que o frio é bem intenso nestas alturas e um mergulho aqui vai te deixar congelado. Há muitos pontos interessantes para se conhecer ao lado das montanhas, vai depender do tempo que você quer gastar na região. Não é difícil perceber porque Huaraz vem se tornando o destino perfeito para trekking e hiking no Peru. Como nossa passagem por Huaraz não estava prevista não tivemos muito tempo e logo seguimos nossa viagem conhecendo também a pequena e peculiar Caraz. No dia de nossa visita era feriado nacional no Peru e na praça principal um grande desfile de crianças, adultos e militares ao som de uma banda parada em frente à prefeitura.
Os peruanos desfilavam fervorosos mostrando toda dedicação a pátria. Na cidade tudo girava em torno das festividades, quiosques e pequenas barracas serviam almoços e pratos típicos aos locais. Visitantes estrangeiros aproveitavam o ensejo e conheciam um pouco mais da cultura peruana. Após o término do desfile, voltamos à estrada e não imaginávamos que estaríamos prestes e enfrentar um dos mais dramáticos e perigosos trechos de nossa travessia até então. Depois de poucos quilômetros da saída de Caraz entramos num caminho de rípio que nos levaria de volta a estrada litorânea. O percurso se tornava cada vez mais estreito e iniciamos uma parte assustadora e sem precedentes.
Pareciam aquelas estradas que vemos em filmes do Indiana Jones, que só de olhar já assusta. Já enfrentei muitas estradas ruins e perigosas em minhas viagens mas esta realmente superou todas as outras. A sequência interminável de túneis que só passava um veículo por vez era de arrepiar. Não havia luz, e nem saídas, os túneis foram abertos à picareta dentro das montanhas rochosas enormes. Pior ainda foi quando cruzamos dentro de um túnel com mais de 2 km de extensão, com um caminhão vindo no sentido contrário, um dos dois teria que regressar e acabou sobrando para nós, pois o caminhão era grande e seria complicado dar ré. Nosso carro também não é pequeno, mas engatei a ré e fui me guiando pelos espelhos naquela escuridão com poeira, com medo de me chocar com as laterais ou com outro carro vindo na minha direção.
Foi um sufoco mas conseguimos voltar e deixar o caminhão passar. Em todas as passagens pelos túneis é imprescindível buzinar a todo tempo, esta é a única forma de alguém saber que você está cruzando o túnel. Dentro deles uma poeira sem fim e o sentimento de medo e pavor por estarmos dentro de um túnel longo e fechado e que em caso de um terremoto, o que é bem comum no Peru, estaríamos ali presos para sempre, sem a menor chance de sermos resgatados com vida. Parece mentira mas cruzamos mais de 50 túneis nestas condições. Letícia a esta altura estava bastante tensa e com lágrimas nos olhos, na sua face o medo estampado, pois ela estava todo tempo com o seu lado do carro voltado para o precipício. Fiquei preocupado com ela e com a situação mas naquele momento não havia muito que fazer, era seguir em frente e sair daquele pesadelo.
No término da seção de túneis ainda cruzamos uma cachoeira espetacular que deslizava sobre uma rocha e chegava até a lateral da estrada. Apesar de toda aridez da paisagem, ao lado da queda uma vegetação dava um pouco de vida a cena.
Depois de 4 horas cruzando túneis e andando por estradas a beira do precipício, alcançamos uma pequena vila e a partir dali a viagem ficou mas tranquila. A vila parecia abandonada, difícil ver alguém na rua com a poeira e o calor, mas dentro de algumas casas, construídas com tijolos de barro e teto de palha seca, observamos alguns moradores. A poeira e a terra ainda constantes, cruzamos pontes e vales de montanhas gigantes e coloridas. Atravessamos em seguida o Cânion do Pato, uma abertura entre as montanhas também de tirar o fôlego. Fomos adiante, já estávamos com 8 horas de viagem e aos poucos iniciamos a tão sonhada descida de volta ao litoral peruano. O sol se punha tímido no horizonte, atrás de plantações, um alívio momentâneo para nossa viagem.
Entramos no asfalto aliviados, Letícia mal conversava comigo, ficou desgastada com todo o sufoco da estrada que com certeza foi o nosso pior desafio até o momento. Passamos por Chimbote e chegamos enfim a Trujillo, a cidade mais importante do norte peruano.
Category : Diário de Bordo
Roberto Colaço
13 Anos ago
UFA!
Até eu, sentado na minha poltrona, “apavorei” com a travessia dos túneis.
Abraços e Suerte
Marcello Bollmann
13 Anos ago
Ola,faco viajens pela america do sul e estou planejando uma para a Colombia agora em agosto,gostaria de saber se esta estrada de ripio na qual vcs se referem (a dos Tuneis) sai de Huaraz,passa por carhuaraz,yugay,caraz e entra a esquerda e desce para casma ou segue atehhuallaca e desce para chimbote?
Eduardo Issa
13 Anos ago
Caro Marcelo
É isto mesmo, a estrada é do capeta, minha mulher ficou apavorada mas eu fiquei na boa, depois que vc entra nela não dá pra voltar mais.
Foram várias horas na terra cruzando túneis e muita poeira mas é uma grande empreitada !
Sai de Lima e sobe até Huaraz e depois segue para Caraz e Chimbote no final já no litoral.
Abraço
NEWTON
13 Anos ago
BOA TARDE E PARABÉNS À VOCES PELO ESPÍRITO AVENTUREIRO. VEZ POR OUTRA FAÇO UMA DESTAS COM UM SIENA 1.0 !!!!!!!
DIGA-ME, NESTA ESTRADA TERRÍVEL QUE PASSASTES, TEM GASOLINA ?
COMO PROCEDER O ABASTECIMENTO COM UM CARRO DE PASSEIO COM TANQUE DE 45 LITROS ? TEM QUE LEVAR GALÕES RESERVAS ?
SAUDAÇÕES E SAÚDE !
NEWTON
Eduardo Issa
13 Anos ago
Caro Newton
Na verdade o trecho é demorado mas não é tão longo, se você encher o tanque no início da estrada, na cidade de Caraz, você chega ao final com o mesmo tanque e se precisar abastecer existe um posto num pequeno povoado após a serra.
Fique tranquilo que o seu valente “Siena 1.0″ vai passar bem no trecho.
Eu acho que o maior risco será furar o pneu, pois a estrada tem muita pedra.
Abraço
GUY + ROSINHA
13 Anos ago
Vindo do Rio, viajando de camper, por MG, DF, MT, RO e AC e seguindo pela recém inaugurada Estrada do Pacífico, estivemos em Huaraz em JAN passado, aproveitando de visitar Chavin, mas como eu tinha tomado a decisão terminante de não me aventurar por estradas de terra, não passamos pelas emoções de VV no Canión del Pato e, em lugar disto, subimos e descemos pela estrada recém asfaltada também muito sinuosa, com visões andinas espetaculares que leva direto dr Huaraz a Casma no Litoral Pacífico e de.là a Chimbote e Trujillo. Parabens por sua extensa e invejada jornada
Eduardo Issa
13 Anos ago
Olá Guy e Rosinha
Deu para perceber que vocês também são grandes desbravadores, é muio encontrar pessoas dispostas a conhecer novos caminhos e novas culturas.
Confesso que a passagem pelos túneis de Huaraz a caminho de Chimbote foi bastante tensa, principalmente quando tive que dar uma ré dentro de um túnel, no escuro e com muita poeira, pois um caminhão vinha no sentido contrário. Mas após este sufoco as paisagens foram incríveis, vales majestosos e isolamento, mas no final eu acho que valeu mas a Letícia não acha…….rs
Grande abraço a vocês e boas andanças pelas américas.
graça e renato
13 Anos ago
Avalio bem o pavor da Letícia… Depois que passa até é bom relembrar… qdo já virou história até podemos rir do susto mas na hora não é fácil. Mais uma vez parabéns pela ousadia. Continuamos viajando de carona com vcs (não com a mesma assiduidade pq nem sempre temos conseguido internet). Boas estradas sempre!
Marcelo Favilli
13 Anos ago
Não tinha lido essa parte! Caraca Pimenta, haja coração! Aonde vcs estão agora?
Eduardo Issa
13 Anos ago
Estamos em Seattle-WA, depois de 50 dias no fantástico Alaska, com certeza um dos lugare mais incríveis que já conheci. Abraço
Alexandre
13 Anos ago
Eduardo.
Parabens pelo post!
No final do mes estou indo para o Peru e vamos sair de carro de LIMA até CARAZ, passando por HUARAZ.. queremos ir até a Laguna Paron!
qual a condicao da estrada? tranquila? voce se lembra do caminho que voce fez?
seria bom o uso de GPS?
abçsss
obrigado!