Copacabana e Ilhas Flutuantes dos Uros, lugares imperdíveis no Lago Titicaca.
Depois de cruzarmos o estreito de Tiquina, pagando cerca de 70 bolivianos pela travessia do motorhome, passamos por muitas curvas e atingimos os 4.300 metros de altitude. Mais algumas horas na estrada sempre com o azul do lago nos acompanhando e já avistamos a cidade de Copacabana. Ao lado da cidade uma montanha característica em forma de pirâmide e a majestosa Igreja de Copacabana, bem na praça central. Iniciamos a descida até a cidade e as ruas estreitas já indicavam que estávamos próximos ao centro. Já estive várias vezes nesta região de Copacabana e o nome do lago sempre me intrigou.
Nas outras vezes tentei descobrir o verdadeiro significado da palavra Titicaca mas só agora, depois de entrevistar o Senhor Diógenes Choquehuanca Panclas, que se define profissionalmente como Analista e Investigador Cultural, acabei tendo uma verdadeira aula sobre a origem do nome. Segundo as versões populares, bolivianos dizem que “Titi” se refere à parte da Bolívia e a “Caca” é do Peru. Os peruanos não deixam por menos e dizem o mesmo dos bolivianos. Brincadeiras a parte, o verdadeiro significado da palavra Titicaca passa pela civilização étnica da língua Aymara Lupaka, chamados de filhos do Sol. Em seus costumes vivenciais, tinham aptidão de identificar na natureza, montanhas com figuras representativas de animais. Em 23 de setembro de 1995, uma comissão investigativa da origem do nome, constatou que a uma distância de 45 km, num ponto perspectivo no extremo noroeste da Isla Del Sol, se avistava uma formação monumental que representava o “TITIQAQA” que na língua Aymara TITI significa Gato Montês e QAQA a cor Parda. A sílaba “Ca” não existe no alfabeto Aymara e foi uma adaptação feita pelos espanhóis que passaram pela região. De fato esta figura do gato é facilmente visualizada da ilha. Portanto, a partir de 2008 o lago TITIQAQA ficou oficialmente reconhecido como o Lago do Gato Montês Pardo. Outras teorias sem consistência foram descartadas, umas delas na língua “Quéchua” se refere à presença de um metal que se quer existe na região. Numa outra versão se diz Lago do Jaguar, pois visto de muito alto o lago parece uma figura de um jaguar. Na verdade, no passado nenhum povo podia ver esta figura de tão alto, o astronauta russo Yuri Gagari foi quem fez esta afirmação pela primeira vez, quando observou o lago do espaço e disse ver a figura de um jaguar.
O lago está situado na divisa entre a Bolívia e o Peru, a uma altitude de 3.821m em relação ao nível do mar, tem 8.300 metros de extensão e é o maior lago navegável do mundo. Tem cerca de 180 metros de profundidade em média, mas pode chegar á 280 metros em algumas áreas. O lago Titicaca é alimentado pelas águas da chuva e pelo degelo dos altiplanos ao seu redor e ainda recebe águas de 41 afluentes. Ao contrário do que muitos pensam, não é o maior lago do mundo, é sim o mais alto, o maior está na Sibéria, é o lago Baikal, considerado o maior em volume de água e fica congelado praticamente o ano inteiro, e só degela no verão. A cidade de Copacabana, além de estar nas margens do lago também tem seus atrativos e um deles é sem dúvida a Basílica de Nossa Senhora de Copacabana, também chamada de Catedral Virgem de La Candelária com um estilo Morisco. A cidade é um centro de peregrinações desde os tempos pré-colombianos e o local foi fundado por Incas, mas existem vestígios de culturas mais antigas, como a Tiahuanacota e só por volta de 1645 aconteceu à colonização espanhola. Atualmente a península recebe turistas e mochileiros de vários continentes que normalmente vêm de La Paz ou no caminho inverso, vindos de Puno no Peru. Copacabana condensa as culturas Inca, Aymara e Espanhola, preservando as suas tradições, mesmo passados mais de 500 anos de história. Ficar 3 ou 4 dias em Copacabana é suficiente para dar uma geral na cidade, passeios de barco a Ilha do Sol e da Lua são obrigatórios, mas não acredite em tudo em que os guias dizem, há muitas lendas nesta região que não tem qualquer fundamento ou comprovação. Uma destas lendas se refere à existência de uma cidade no fundo do lago, nos arredores da Ilha do Sol e que seria a tão procurada Atlântida. De qualquer forma esta afirmação vem sendo transmitida de geração em geração e os bolivianos seguem relatando aos turistas. Voltando do passeio pelas ilhas, experimente um salmão ou uma truta nos restaurantes em frente ao lago, há boas opções. Depois de comer aproveite para contemplar o belo visual do sol se fundindo no horizonte, as cores são incríveis.
Deixamos Copacabana e voltamos para estrada rumo ao Peru, passando pelos trâmites de fronteira. Conhecendo a fama destas travessias e depois da propina na entrada da Bolívia, já entrei na aduana dizendo que era jornalista de turismo e que estava fazendo uma reportagem sobre o Peru. Este tipo de comentário já desmonta qualquer possibilidade do policial pedir propina e de fato funcionou, fomos tratados com educação e respeito, a documentação do veículo foi feita no computador, bem diferente das últimas vezes que passei por aqui de carro. Passamos pela imigração e deu tudo certo, ficamos cerca de 45 minutos para realizar todo o processo. Neste trecho, pudemos observar todo o trabalho dos peruanos que vivem às margens do lago, normalmente com o junco retirado das áreas alagadas, confeccionando colchões, pastorando suas lhamas e ovelhas e trabalhando na terra. As mulheres são as que mais trabalham e por várias vezes vimos na estrada senhoras carregando fardos de junco ou de lenha e conduzindo seu rebanho. Fomos parados por alguns bloqueios policiais e acabei reclamando ao policial sobre as freqüentes paradas, considerando que na entrada do país todos os documentos já haviam sido checados e liberados, qual seria a necessidade desta verificação à apenas poucos quilômetros da fronteira ?! Fomos adiante e aos poucos o movimento de moto-taxi já era intenso e chegamos ao centro de Puno.
A fama da cidade se deve as incríveis ilhas flutuantes dos Uros e a grande feira de artesanato onde se encontra um pouco de tudo da cultura andina. A existência dos Uros já se verifica desde a era pré-colombiana, quando um povo homônimo desenvolveu esta forma de habitação tendo em vista maior segurança. As ilhas flutuantes são feitas à base de totora , uma espécie de junco e estão em constante trabalho de manutenção para assegurar sua flutuabilidade. Os residentes destas ilhas pescam, caçam pássaros e atualmente conseguem uma boa renda com a vinda de turistas e a venda de artesanato.
As índias confeccionam belas peças em tapeçaria e também vestimentas com a tradicional lã de lhama e alpaca. A visita as ilhas parte das margens do lago no centro de Puno, é só ir até o ancoradouro e comprar a passagem nos barcos que partem durante todo o dia. Na chegada as ilhas você terá uma boa explicação de como as lhas são feitas e como vivem estes povos. A cultura dos Uros propõe que todas as casas sejam construídas com a porta virada para o centro, assim todos os vizinhos se cumprimentam pela manhã. Em caso de uma pequena desavença, pode-se virar a casa integralmente, deixando as portas sem visão uma da outra. Em casos extremos, o encrenqueiro serra literalmente sua parte e cria sua própria ilha, acrescentando mais totora e formando outra comunidade. Há famílias que possuem casas nas ilhas, passam o dia atendendo os turistas e depois voltam a Puno para dormir. Alguns moradores vivem realmente nas ilhas e levam adiante a cultura secular destes povos.
Conhecer os Uros e a forma como vivem é extremamente interessante, uma das boas experiências de quem passa por esta região do país. Você vai perceber mesmo com toda simplicidade, vivendo longe de todos os aparatos tecnológicos, as pessoas são felizes aqui.Nossa parada em Puno foi muito tranquila, como já conhecia o lugar fui direto ao Hotel Libertador e após a autorização do gerente pudemos estacionar o nosso motorhome no hotel, tendo uma vista espetacular da cidade de Puno com o lago e também das Ilhas dos Uros. Almoçamos no hotel alguns dias e a comida é deliciosa, um dos melhores restaurantes do local. De volta à estrada, deixamos Puno e seguimos em direção a cidade de Juliaca, por sinal bem povoada e com um centro tumultuado para cruzar de motorhome, ruas estreitas e uma infinidade de bicicletas, moto taxis, carroças, todo cuidado é pouco. Saímos ilesos e seguimos para Arequipa, uma das mais bela cidades do Peru.
Category : Diário de Bordo
renato e graça
14 Anos ago
Que venha Arequipa (lindaaaaaaaaaaa)! Bom ‘matar a saudade’ com o relato de vcs…
Boa estrada
eduardo
14 Anos ago
Arequipa é mesmo fascinante, confira as fotos no boletim que vocês irão matar a suadade ! Abraços
Elisa Zambenedetti
14 Anos ago
Olá, Eduardo e companheira.
Estou acompanhando a bárbara viagem de vcs e captando as energias dos locais por onde passam através das imagens e da narrativa desta incrível experiência!
Parabéns pela iniciativa e muito sucesso nessa empreitada!
Beijos, Elisa.
eduardo
14 Anos ago
Obrigado pelas palavras Elisa, esta é a nossa maior recompensa, poder compartilhar nossa viagem com os amantes da aventura. Grande abraço ! Eduardo e Letícia
gervasio jordão de andrade
13 Anos ago
Eduardo boa tarde….
Estou me programando para sair de São Paulo destino Machu Piccho no proximo carnaval via Corumba de moto sozinho.
Quais os cuidados que devo tomar quanto a gasolina e travessia das aduanas.
Grande abraço e até qq hora.
Eduardo Issa
13 Anos ago
Olá Gervásio
Já fiz este trecho em outra ocasião, entrando na Bolívia e Peru por Corumbá. Para cruzar a fronteira entre Brasil chegue bem cedo e se possível durante a semana, quando o movimento é mais calmo. A passagem é tranquila, é só apresentar os documentos no escritório da Aduana, tenha sempre a mão várias cópias do seu passaporte (primeiras páginas) e da sua habilitação com o documento da moto, eles vão pedir em todas as fronteiras. Em relação a gasolina não problemas, se for levar gasolina extra coloque num reservatório aprorpiado e se possível não deixe visível. De qualquer forma existem postos por todas as estradas. O documento da moto deve estar no seu nome, do contrário vc vai precisar de uma procuraçào do proprietário reconhecida em cartório oficial e ainda sim vai te dar dor de cabeça. Espero que tenha uma boa viagem ! Abraços