El Calafate, encarando os gigantes de gelo !

Posted on junho 2, 2011 // 10 Comments

Deixamos o extraordinário parque Torres Del Paine, no sul do Chile e seguimos para outro destino impactante da Patagônia, a cidade de El Calafate, agora na Argentina, a região dos glaciares. A estrada para El Calafate é tranqüila, na verdade há duas opções, uma mais curta, mas com um trecho de rípio e outra mais longa com tudo asfalto. Com o nosso carro preparado para qualquer terreno, preferimos o mais curto, mesmo com um trecho sem pavimento.  No caminho ainda encontramos um ovelheiro conduzindo seu rebanho pela estrada e ficamos impressionados com a quantidade de ovelhas, eram 2.500 cabeças que foram aos poucos envolvendo nosso motorhome. A cena era pitoresca, parecia que estávamos num mar de ovelhas. Com os cachorrros treinados, as ovelhas foram lentamente se afastando do veículo e seguindo para o acostamento e seguimos viagem. Passamos pela fronteira Chile-Argentina sem novidades e entramos no trecho de rípio. O que não esperávamos era enfrentar uma estrada coberta de neve e acionamos a tração 4×4 para seguir com mais segurança.

            

Em alguns locais só passamos por estarmos com um veículo alto e traçado. Mais uma vez o atraso em nossa saída do Brasil afetou nossa viagem, pois com a chegada do inverno muitas regiões já estão cobertas de neve. Cruzamos o trecho nevado e durante nosso percurso avistamos apenas um veículo.  Já no asfalto, a paisagem foi mudando quando nos aproximávamos de Calafate, montanhas e lagos podiam ser visto do alto da estrada. O que nos marcou neste trecho foi ver na lateral da estrada um guanaco preso pelas patas traseiras no arame farpado da cerca. Parei o motorhome e subi a montanha com um alicate até onde se encontrava o guanaco, que se debatia causando enormes ferimentos em suas patas traseiras.  Quando me aproximei o animal se debatia sem parar. Pulei a cerca e cheguei lentamente por de trás e cortei o arame. O guanaco saiu em disparada sem maiores danos, ficamos felizes por este resgate.  Normalmente estes animais com suas pernas longas saltam com facilidade estas cercas, mas em alguns casos, um pulo mal executado pode causar até a morte.

           

           

Vimos alguns bichos mortos presos no arame, alguns pela barriga, outros pelo pescoço.  Voltando a Calafate, a cidade é uma vila turística localizada na Patagônia argentina, na província de Santa Cruz e atualmente tem aproximadamente 25 mil habitantes. Uma grande surpresa nos aguardava em Calafate, encontrar com nossos amigos brasileiros Andre e Cris, mineiros da cidade de Lambari, que também viajavam pela América do Sul de motorhome. Já em Calafate, cruzamos a avenida principal e no sentido inverso vinha um motorhome com placa do Brasil. Como nossos amigos haviam trocado de motorhome não sabíamos como era a nova montagem, mas não foi difícil perceber que eram eles. Fizemos o retorno e paramos ao lado, muito legal encontrar com o André e a Cris em Calafate. Naquele mesmo dia, a Cris nos convidou para jantar em seu motorhome e preparou um delicioso jantar típico brasileiro, com arroz, feijão e uma bela costela. Por muito tempo a Letícia vinha sonhando com um jantar desses e a adorável Cris preparou com todo carinho. O André, sempre cordial, cuidou da seleção de um bom vinho e jantamos deliciosamente contando as novidades, trocando informações, foi realmente uma noite muito gostosa.

          

No dia seguinte o frio já era intenso, nossos motorhomes amanheceram com gelo em alguns canos e a água da caixa não saía com facilidade. Com a chegada do sol a situação foi voltando ao normal e o André me deu mais uma dica, para antes de dormir desligar a bomba d’água do motorhome e esgotar a água dos canos, assim não teríamos problema com congelamento. A vida de viajante é assim, sempre trocamos dicas importantes, aprendidas durante nossas viagens, e desta forma cada vez mais estamos preparados para os imprevistos e situações adversas.  Ficamos alguns dias com nossos amigos, matamos a saudade do Brasil de certa forma e demos boas risadas, foi um encontro memorável e pretendíamos repetir o encontro em outra cidade, desta vez no Chile. André e Cris partiram para Puerto Natales, onde embarcariam o veículo num navio e navegariam até Puerto Montt, pelos lagos chileno, sentimos saudades !

          

Depois da partida dos nossos amigos, iniciamos nosso tour por Calafate, pois sabíamos que os atrativos são muitos, a cidade vive do turismo. No primeiro dia já iniciamos pelo Parque Nacional Los Glaciares onde está o majestoso glaciar Perito Moreno, o maior atrativo natural da Argentina. Neste glaciar os visitantes ficam a poucos metros do grande maciço de gelo em tons de azul intenso. O nome Perito Moreno é uma homenagem ao explorador e perito Francisco Pascasio Moreno, que em suas investidas no sul do país ajudou na demarcação dos limites fronteiriços entre a Argentina e o Chile.

             

            

As dimensões do glaciar impressionam, ocupa uma superfície de 297 km2, uma altura frontal de aproximadamente 60 metros e largura de 5 km. É uma massa de gelo em constante movimento, gerando alterações em toda sua extensão. Na última vez que estive em Calafate, há 12 anos, fiz um passeio especial pelos lagos Viedma e Argentino, conhecendo vários glaciares como o Upsala, Spegazzini, Onelli, entre outros. Gostaria muito de repetir o passeio e mostrar a Letícia toda a magnitude dos glaciares da região, mas descobri, conversando com um argentino, que grandes blocos de gelo se soltaram do glaciar Onelli e bloquearam a baía. Assim  a embarcação  não consegue mais entrar na baía dos glaciares, portanto enquanto a baía estiver fechada não vale a pena  fazer o passeio de barco pelos glaciares. Contemplamos o gigante de gelo por toda manhã e regressamos ao camping com o nosso motorhome. Por sinal o camping tem uma boa localização e a pé pudemos conhecer todo o centro da cidade. A noite estava fria e propícia para experimentarmos o legítimo “Cordeiro Patagônico”. O sucesso depende da paciência, pois quanto mais se demora para assar mais gostoso ele fica, deve-se esperar o momento certo para saboreá-lo.

           

          

O centro é repleto de restaurantes, lojas e agências para todos os gostos e bolsos, tudo para atender o grande número de turistas que visitam Calafate. Se você estiver na cidade no auge do inverno, poderá patinar na Baía Redonda, pois o baixo nível das águas e temperaturas que chegam a 10 graus negativos faz com que esta baía se congele, transformando parte do lago numa pista de patinação que chega a 4 km de extensão. No dia seguinte, encaramos o desafio de caminhar pelo glaciar Perito Moreno, uma espécie de mini trekking sobre o maciço de gelo. Tenho certeza que esta experiência é imperdível para quem visita Calafate.  A aventura tem início na face sul do Glaciar, depois de navegarmos pelo Braço Rico de Porto Las Sombras, desembarcamos e caminhamos em direção ao gelo acompanhados do guias competentes e profissionais da empresa Hielo e Aventura. Depois de 20 minutos estamos na borda do glaciar, hora de colocarmos os “grampones”, uma espécie de trava metálica com pontas, que são fixadas no calçado para dar aderência sob o gelo. Iniciamos a caminhada e a partir daquele momento perdemos a noção do tempo, parece que entramos num túnel e saímos em outra dimensão, ficamos perplexos diante de tanta magnitude.

                   

                           

         

           

             

A sensação é única, a cada passo percebemos que somos apenas uma ínfima parte deste universo gelado. No final ainda brindamos a façanha tomando um uísque com pedras de gelo retiradas do glaciar, como esquecer este momento.  Foram milhares de anos transformando a sua paisagem, majestosos e indomáveis, depois de conhecê-los você se encanta com as imagens memoráveis que ficaram em sua mente para sempre.  Partimos de Calafate e seguimos até a pequena El Chalten, paraíso de trekkers e alpinistas do mundo inteiro. A montanha El Chalten, com seus 3406 metros de altura foi denominado assim pelos índios Tehuelches, os primeiros habitantes destas terras.

            

                      

Seu significado tem duas versões, montanha azul ou montanha que solta fumaça. Esta parte dos Andes abriga os dois mais famosos picos da Patagônia argentina, o Cerro Fitzroy (El Chalten) e o Cerro Torre. El Chalten é uma localidade nova no país, foi fundada em 1985 e aos poucos vem atraindo muitos turistas, especialmente montanhistas. Passamos pela cidadela no início do inverno e apenas alguns habitantes permaneciam no lugar, o restante só deve voltar em setembro, quando recomeça a alta estação. De qualquer forma, conhecer o Fitzroy e as montanhas que o cercam é fabuloso.  Pudemos observar o grande maciço de vários ângulos, e na estrada que segue para o Lago del Desierto foi a melhor imagem que tivemos da montanha azul. Paramos o nosso veículo e registramos da melhor forma o Fitzroy, imagens inesquecíveis de toda cadeia com céu azul e nuvens com desenhos espetaculares envolvendo os picos. A estrada que segue para o lago, vai serpenteando o Rio das Voltas acompanhada por bosques e algumas cachoeiras.

           

           

Este trecho é longo e isolado, pontes estreitas e com pequena capacidade de carga nos deixaram um pouco preocupados, mas nosso motorhome estava dentro do peso indicado. Mais uma vez tive a certeza que motorhomes muito longos e pesados ficam restritos à alguns atrativos. Durante o caminho as paisagens são interessantes, com cachoeiras formadas por degelo e lagos envoltos por vegetação. No final o visual ficou abaixo das expectativas, o tempo estava nublado, talvez com sol o quadro seja outro.

           

        

Interessante é que esta região está em litígio com o Chile, em alguns mapas vemos um quadro cinza com esta informação. Voltamos a El Chalten, almoçamos e seguimos para a Ruta 40, nosso próximo destino era percorrer a misteriosa e inóspita Carretera Austral.

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