Ushuaia, estamos no fim do Mundo !
Seguimos pela Ruta 3, e aos poucos fomos chegando ao centro da cidade, com o mar á nossa esquerda e as grandes montanhas dos Andes á nossa direita. Ushuaia é uma simpática cidade que atualmente vive praticamente do turismo, principalmente entre os meses de setembro a março, nas estações da primavera e verão.
Chegamos um pouco fora deste período mas ainda aproveitamos as paisagens diversificadas, as árvores com suas folhas em tons de amarelo e ocre e também salpicadas de neve . A cidade que atualmente tem cerca de 60 mil habitantes também conta com uma boa estrutura portuária, de onde parte passeios e expedições a Antártida. Uma coisa que se aprende rápido é que os argentinos dizem “Ussuaia”e não Ushuaia como os brasileiros costumam dizer. Quando entramos na cidade a temperatura caiu bruscamente e junto com o frio também veio o escuro, às 5 e meia da tarde, talvez aqui fosse da noite.
Normalmente durante o inverno os dias são curtos e durante o verão são longos. Procuramos um posto de combustível, “estacion de servicio” como são chamados aqui, e paramos nosso motorhome para dormir. No dia seguinte tivemos que ir atrás de um “gazista”, pois estávamos com um problema sério em nosso aquecedor de água, ele simplesmente não tinha calorias suficientes para esquentar a água gélida do extremo sul. Este problema nos fez dormir numa pousada em Ushuaia o que acabou sendo muito agradável, pois ficamos na “Hosteria Rosa de los Vientos”, com internet, calefação, banho bem quente, um bom café da manhã e um proprietário muito atencioso e simpático, o Senhor Pablo. Na manhã seguinte, Pablo nos levou ao uma espécie de mirante no alto da sua pousada, uma torre com janelas de vidro e de lá tivemos uma visão panorâmica de toda cidade ouvindo atentamente a história de como se deu a colonização do lugar. Pablo costuma dar esta aula de história para todos os hóspedes da pousada.
Apesar da Ilha da Terra do Fogo ter sido ocupada pelo homem há 10.000 anos, a cidade de Ushuaia é relativamente nova, tem um pouco mais de 100 anos. O navegador português Fernão de Magalhães que, procurando um caminho para as Índias, descobriu o estreito que leva seu nome e que faz a ligação dos oceanos Atlântico e Pacífico. O termo “Tierra de los Fuegos” foi dado por Magalhães, pois avistara em terra focos de fumaça, que eram produzidos pelos índios Yámanas, que habitavam toda a região. Eles eram uma espécie de aborígenes que viviam com poucas vestimentas, uma pequena capa de couro de lobos marinhos e também utilizavam gordura e óleo destes bichos para besuntar o corpo gerando uma espécie de isolamento térmico que fazia com que suportassem temperaturas negativas. Tinham uma boa relação com o meio ambiente e faziam seus acampamentos nas praias, aproveitando a geografia do lugar. A alimentação era baseada em lobos marinhos, mexilhões e outros moluscos. Infelizmente estes índios foram dizimados da Terra do Fogo pelos colonizadores missionários anglicanos que, vendo-os cometer o “pecado” de andarem nus, os cobriram com roupas sujas e contaminadas e aos poucos eles foram sendo exterminados pelas doenças dos homens. Da pousada do Pablo pudemos ver o presídio, onde se deu o início da cidade e que agora é um museu. Após o café da manhã na pousada fomos até lá para conhecer e fizemos uma visita guiada onde ouvimos todos os dados históricos do início da colonização da cidade e dos famosos presos que passaram pelo cárcere do fim do mundo e que praticamente levantaram as primeiras construções.
Voltando ao nosso motorhome, aproveitamos para ir a uma fornecedora de gás e conseguimos encher o nosso botijão, que tem uma válvula diferente dos botijões argentinos. Com tanta procura de brasileiros que vem de motorhomes a Ushuaia, a fornecedora Santini, localizada no trevo de entrada da cidade, tem um adaptador que se encaixa no botijão brasileiro para receber a recarga de gás. Aproveitei e perguntei ao funcionário sobre um gazista e ele me passou um endereço de um profissional, coloquei a rua no GPS e seguimos para lá. Chegando á casa nos atendeu o Senhor Hugo, um chileno simpático e de sorriso fácil que foi logo falando: “Do Brasil, tá legal” !! Hugo era o cara certo para aquele serviço, já havia instalado vários aquecedores brasileiros em motorhomes argentinos e sempre fazia esta alteração no equipamento para aumentar a potência. Tiramos o aquecedor e deixei com ele para fazer o serviço. Voltamos 3 horas depois e estava pronto, colocamos de volta no carro, um frio de rachar, nossas mãos ficaram duras, nossa não, a minha, o Hugo está acostumado com aquele frio. Dei um boné do Brasil para ele, ficou muito feliz. Ele me cobrou 100 pesos, normalmente este serviço custaria cerca de 250 pesos. Ficamos amigos e ainda peguei água na casa dele para completar o reservatório do nosso motorhome. Deixamos a hosteria do Pablo, que foi muito gentil e ainda nos deixou carregar as baterias utilizando a tomada da pousada e seguimos para o posto na frente do centro da cidade, ao lado do porto. Encaramos o banho, que alívio, a água estava quente e deliciosa novamente, ficamos tranqüilos e felizes com o trabalho do Hugo. Se você passar por lá de motorhome e tiver este problema, procure o Hugo, ele mora na Rua Aristobolo número 555. No dia seguinte partimos para conhecer o Parque Nacional Tierra Del Fuego, passando pela estação de trem do fim mundo, um passeio nada de mais.
Acho que a estação e o ambiente que a cerca valem a visita, o passeio nem tanto. Seguindo na Ruta 3, fomos em direção a portaria do parque. Na entrada uma boa notícia, de maio a setembro não se paga entrada, afinal é baixa temporada e poucos turistas se aventuram por estas bandas. Entramos e fomos direto para o final da Ruta 3, a Baia de Lapataia. Chegando lá outra surpresa, na placa explicativa estava escrito, Baía Lapataia, final da Ruta 3, Buenos Aires 3079 km, Alaska 17.848, esta era a nossa próxima meta, chegar ao Alaska. A baía é envolta por montanhas cobertas de neve, ali é o início dos Andes. No lago formado pelo rio de mesmo nome patos, cisnes e lobo marinhos convivem democraticamente.
Uma passarela de madeira circunda a borda e termina nas margens do lago. Fizemos todos os registros, marcamos o ponto com o nosso SPOT e voltamos para conhecer um pouco mais do parque nacional. Paramos no centro de visitantes e aproveitamos para almoçar num belo restaurante, com CHEF de cozinha e comida de primeira. Mais uma vez vem a mente porque os argentinos conseguem ter uma estrutura exemplar dentro de um parque pouco expressivo e nós brasileiros não temos ? Em termos de estrutura básica em parques nacionais nós temos muito o quê aprender com eles. Há parques conhecidos no Brasil, afastados da cidade que não têm se quer um local para comprar uma água ou um sanduíche, o visitante que se vire. Na Argentina e no Chile, qualquer parque por menor que seja conta com centro de visitantes, placas indicativas novas e conservadas, guarda-parques em número suficiente para realmente cuidar da unidade. Em termos de parques nacionais o nosso Brasil tem muito potencial e pouco tem sido feito para melhorar a estrutura dos mesmos. Voltamos para o centro de Ushuaia e passamos pelo centro comercial, a rua San Martin, onde é possível comprar tudo para frio e todos os tipos de lembranças da região. Como iríamos passar por outros lugares frios, aproveitamos para comprar calças térmicas, camisas térmicas, sapatos de pele e meia de lã, afinal a partir dali a tendência era o frio só piorar. No dia seguinte fomos conhecer a parte histórica da cidade, visitamos o presídio, onde Ushuaia começou, conhecemos o museu marítimo e caminhamos pela região do porto onde registramos imagens na placa com os dizeres: Ushuaia “Fin Del Mundo”. Depois do almoço subimos até o Glaciar Martial mas como havia nevado nos últimos dias, ele estava coberto.
No quinto e último dia em Ushuaia, seguimos para o melhor passeio da nossa passagem, navegamos pelo Canal de Beagle com tempo bom, céu azul, passando por ilhas com lobos marinhos, pássaros e desembarcamos numa ilha para uma caminhada. Neste ponto do passeio você está situado na entrada do Oceano Atlântico, a 80 km do Oceano Pacífico e 200 km do Cabo Horn. O passeio é obrigatório para quem visita Ushuaia, você terá toda a explicação da geografia do lugar, além de registrar belíssimas imagens da fauna local e tudo isso sem equipamento fotográfico profissional.
Voltamos para terra firme e pegamos a estrada com destino a Punta Arenas. Ficamos felizes com a passagem por Ushuaia, conhecemos boa parte dos atrativos e mesmo com a temperatura muito baixa as paisagens ficaram surpreendentes com neve. Agora tivemos a certeza que estamos no início da nossa Travessia das Américas.
Category : Diário de Bordo
Laerte Lima
14 Anos ago
Queridos amigos. Letícia e Eduardo
Muitos dariam tudo para fazer o que estão fazendo …como eu por exemplo !!
Mas que sabe um dia !! Parabéns “Pimenta” pelas fotos … um Grande abraço .. e que
em todos seus caminhos vc tenha uma proteção “Amiga”…
Vai com Deus !! e muito boa sorte!!!
Laerte Lima
Christina de Oliveira Gontijo
14 Anos ago
Olá!Gostei de ler o diário de bordo de vcs.Estávamos eu e meu marido no mesmo passeio de barco no canal de Beagle com vcs e achei fascinante esta travessia que vcs estão realizando.Será muito bom mostrar ao mundo tantas maravilhas e que infelizmente estamos destruindo.Também achei o passeio de trem do fim do mundo sem muita coisa para mostrar assim como a baía Lapataia.O que nos mostra é como os argentinos têm um orgulho de sua terra (e tb os chilenos)que,mesmo em pequenos parques,sem muita coisa para mostrar,eles fazem dele algo diferente e que atraia turistas.A trilha do trem leva a lugar nenhum mas é emocionante vc fazer o trajeto ouvindo a história,mesmo que triste,de um povo de um patriotismo de dar inveja.Acho que é o que falta para nós brasileiros,valorizar o que temos e tb preservar mais.Um grande abraço e que continuem a fazer este ótimo trabalho para nós nos deleitarmos.Christina
eduardo
14 Anos ago
Valeu Cristina, realmente o passeio de barco pelo Canal de Beagle estava fascinante e com o tempo bom foi ainda melhor. Os argentinos e chilenos cuidam muito bem de seus parques e reservas naturais, bem diferente do que acontece no Brasil onde os parques não recebem recursos suficientes e sobrevivem aos trancos e barrancos. Temos apenas algumas exceções como Iguaçu, Aparados da Serra, Serra da Capivara mais alguns.
Continuamos em frente em nossa empreitada, mostrando um pouco mais das américas para quem nos acompanha.
Abraços
Cesar e Dani
14 Anos ago
Olá, estamos acompanhando a vossa viagem, atentos aos detalhes dos passeios que acontecem, as fotos maravilhosas, haja visto que estaremos na próxima primavera saindo de Campinas/sp rumo à Ushuaia em nosso F4000 motor home. Parabéns.
Silvio bombeiro sao josé norte
14 Anos ago
Olá amigo eduardo,vcs são aventureiros mesmo estou acompanhando e pesso sempre a deus que ilumine seus caminhos abraço a vc e sua esposa,mande noticias.
Sérgio Helfensteller
14 Anos ago
Prezados aventureiros,
Em janeiro de 2010 fomos de motor-home até ushuaia pela ruta 3 depois Punta Arena, subindo pela pan americana até Santiago, depois Mendoza e Porto Alegre. Foram 12.000km em 45 dias.
Estamos acompanhando a aventura de vcs e se Deus quiser e permitir dentro de uns 2 ou 3 anos iremos “imitá-los”.
Estão comendo muito cordeiro ???
Estamos torcendo pelo sucesso de vcs e que Deus os acompanhem até o destino final Alaska.
O material de vcs está ótimo !!!
Um grande abraço
SergioFrio.(POA)
EDSON GUEDES
14 Anos ago
Boa tarde amigos, parabens pelos passeios pelas fotos pelas dicas, pois quem sabe o dia que tiver o meu usarei seu site como referencia, que DEUS sempre ilumine seus caminhos para que voceis ilumine os caminhos dos que vão seguir suas dicas, mais uma vez PARABENS, com certeza uma casal naravilhoso.
Boa sorte