Conhecendo a simplicidade do povo Amish em Lancaster, Pensilvânia.
Algumas vezes ouvi histórias que relatavam a vida do povo “Amish”, talvez o filme “A Testemunha” com o ator Harrison Ford, tenha sido o meu maior contato com este povo tão peculiar. Depois de conhecer todo o encanto de New York partimos para uma visita bem incomum e cercada de surpresas. Nosso destino foi à pequena cidade de Lancaster, no estado da Pensilvânia, onde está a maior comunidade Amish dos Estados Unidos. A história do nascimento deste povo teve início na Europa no século 16, com a revolução protestante, quando várias sociedades foram surgindo trazendo novas religiões e novas divisões do catolicismo. Um dos líderes deste movimento foi um pastor católico chamado Menno Simons, que colocou em dúvida a autoridade absoluta da igreja e queria estar livre da hierarquia e poder dos líderes romanos. Seus seguidores eram chamados “Mennonitas” e este nome foi adotado também por suíços e alemães. Tentando escapar da perseguição, aprisionamento, tortura ou até mesmo a morte, muitos Mennonitas seguiram para regiões isoladas da Alemanha. Um bispo Mennonita suíço chamado Jacob Ammann tornou-se líder de um novo conceito de vida e religião e seus seguidores ficaram conhecidos como “Amish Mennonitas” ou somente “Amish”. Buscando liberdade religiosa, muitos Mennonitas e Amishes migraram para os Estados Unidos. Alguns grupos aceitaram o convite de William Penn para virem à Pensilvânia, onde receberiam terras baratas para exercerem atividades rurais e teriam também liberdade para a prática de suas religiões.
Segundo pesquisadores, os primeiros colonizadores Amishes chegaram aos Estados Unidos por volta de 1727. Uma década depois um grupo ainda maior se fixou no sudeste do estado da Pensilvânia e o local ficou conhecido como Pensilvânia Dutch, que na verdade foi um erro de pronuncia dos locais para o termo “Deutsch” que significa alemão. Portanto muitas pessoas acham que os Amishes tem origem holandesa, mas não é verdade, eles são compostos normalmente por alemães e suíços. Posteriormente membros de outras nacionalidades como franceses e também alguns holandeses migraram para a Pensilvânia e em 1790 já eram um terço da população do estado. Depois deste pequeno relato sobre a chegada dos Amishes vamos contar um pouco da nossa experiência em Lancaster. Buscamos inicialmente um local onde pudéssemos conhecer e entender como eles vivem e paramos na Amish Farm.
Esta espécie de fazenda que mostra em detalhes como é o cotidiano, as casas, vestimentas e como vivem estas famílias em Lancaster. A cada minuto da visita nossos pensamentos estão voltados para nossas vidas e se torna praticamente impossível não compararmos os dois estilos. A simplicidade é evidente, mas o que mais chama a nossa atenção é a falta de energia elétrica. As roupas também não tem a menor importância, pois normalmente as pessoas têm apenas quatro ou cinco peças, de cores sóbrias e sem qualquer luxo. Os homens usam normalmente roupas pretas ou tons escuros. Alguns usam camisas brancas. Suas calças não têm bolsos e são seguradas por pelo menos um suspensório. Outra característica dos homens está relacionada ao estado civil, os casados usam barbas longas e jamais usam bigode, por acharem que está associado a soldados. Homens e garotos utilizam chapéus em ambientes externos. As mulheres de uma mesma comunidade usam praticamente o mesmo padrão de cores, pois muitas vezes compram uma grande peça de tecido e elas mesmas confeccionam seus vestidos. As regras são para cores sólidas e normalmente em tons de azul, preto, verde, marrom, vinho ou roxo. Os sapatos são pretos e as crianças costumam andar descalças ao redor da casa.
O estilo de vida é baseado na crença de que qualquer membro da comunidade deve rejeitar os avanços do mundo, as armadilhas do homem moderno e amar a Deus em primeiro lugar. Esta prática prevalece no trabalho, na educação, em casa, em viagens e em todos os aspectos da vida. Eles buscam sempre a igualdade de condições e qualquer item que possa elevar a posição social, como moda, educação ou no trabalho é evitado. Os Amishes escolheram seguir a vida simples dos seus ancestrais. Eles rejeitam automóveis, eletrodomésticos, telefones e tratores. A humildade é praticada em excesso entre eles e qualquer avanço que possa resultar em exaltação, orgulho ou exercício de poder é pecado. Outra característica interessante que observamos entre os amishes foi à forma de cuidar da terra, o princípio básico de estar em harmonia com o solo e a natureza.
Tivemos a chance de encontrar algumas pessoas dentro da comunidade e apesar do costume de não conversarem com “ingleses”, como eles chamam qualquer pessoa que não seja amish, conhecemos ainda mais como eles vivem. Alguns aspectos são realmente interessantes, a assistência mútua, ou seja, em caso de falência financeira, desastre, incêndio, doença ou mesmo velhice, dentro da comunidade os membros se ajudam, cada amish é responsável por ajudar seu irmão. Circulando pelas ruas de Lancaster e também nas áreas mais distantes constatamos a simplicidade com que os amishes vivem, nas escolas as crianças se divertem com brinquedos artesanais, mas com um belo sorriso no rosto. Ao retornar da casa, utilizam normalmente bicicletas ou patinetes que também usados pelos adultos. Nas ruas, as carroças e carruagens transformam as bucólicas paisagens rurais em cenas de séculos passados. Cada uma com sua função, dependendo da época do ano e o propósito da sua utilização.
De qualquer forma, as carroças são obrigadas a circular pelas ruas com iluminação a bateria para serem vistos pelos outros veículos e para indicação de seta. Curioso foi ver o Walmart de Lancaster com estacionamento para estas carroças. Na região dos amishes, um trem com vários vagões bem na beira da estrada surpreendente os visitantes, na verdade é um trem hotel, onde cada vagão é um quarto e ainda tem o vagão restaurante e outro com a recepção” é claro que tudo isto pertence a pessoas da cidade. Outro fato nos chamou a atenção, ver uma espécie de cabine telefônica fora de algumas casas. A explicação é que alguns amishes têm negócios com pessoas da cidade e a única forma de contato é o telefone.
Eles marcam um horário durante o dia, normalmente entre 5 e 6 da tarde e ficam ali naquela pequena casinha recebendo as chamadas somente naquele horário. Através dos costumes e estilo de vida, parece mesmo que os amishes ainda vivem no século XVI. Paramos numa fazenda à beira da estrada onde Rose, uma mulher amish vendia aspargos frescos. Compramos alguns para o almoço e aproveitamos para conversar um pouco. Disse que éramos do Brasil e ela não sabia onde se localizava nosso país, nem mesmo que ficava na América do Sul. Rose foi simpática, mas de pouca conversa e logo deixamos sua casa e continuamos nossas andanças pela região.
Foram imagens marcantes, ver os amishes trabalhando a terra, crianças correndo felizes, é realmente bonito de se ver. Um dos principais lemas dos amishes é “Be in the world, not of the world”, que significa estar no mundo e não do mundo. São as regras básicas e óbvias que identificam e separam os amishes da maioria dos americanos. Atualmente, a população total de Amishes nos Estados Unidos e Canadá é estimada em 150 mil pessoas e na Europa não se tem notícia de qualquer grupo denominado amish, ou de pessoas que seguem os princípios deste povo. De qualquer forma, passar por Lancaster e conhecer de perto os Amishes foi uma experiência no mínimo intrigante e que nos leva a pensar no verdadeiro valor desta corrida desenfreada por tantos aparatos tecnológicos em nossas vidas. Será que o nosso convívio familiar e com amigos não seria melhor se tivéssemos menos celulares e computadores, menos “I-phones e “I-Trecos”?! Fica aqui a pergunta para a nossa profunda reflexão.
Seguindo para Boston.
Category : Diário de Bordo
Juliana
12 Anos ago
Fotos perfeitas!!!
Que história!!!!
Boa Viagem!!!
maria raquel
11 Anos ago
Adorei!!! Boa viagem!!!
marcelo da silva rego
11 Anos ago
Que Deus abençoe esse povo !
carlos
10 Anos ago
gostei das fotos,sao lindas